Escrito por HERMANO CAVALCANTI: Estudante de Relações Internacionais/UFPB e integrante do Grupo de Estudos da Paradiplomacia (GEPAR)
Com uma formação acadêmica voltada para a gestão comercial, empresarial e de marketing, Renato Rezende foi Diretor Comercial no grupo Empreza, em 2007. Atuou na Mprado Consultoria Empresarial. No ano de 2016, assumiu o cargo de Diretor de Turismo da cidade de Uberlândia, atuando na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo de Uberlândia até março de 2019, sendo posteriormente nomeado como Diretor de Promoção de Investimentos da Prefeitura de Uberlândia, no qual atua até o presente momento.
Você poderia começar nos contando um pouco da sua trajetória até se tornar Diretor de Investimentos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo da Prefeitura de Uberlândia?
Renato – Primeiro, eu entrei na Prefeitura na Diretoria de Turismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo de Uberlândia. A Secretaria tem uma divisão sobre desenvolvimento econômico, inovação e turismo. Ela era uma Secretaria com duas pastas: a do desenvolvimento econômico e a do turismo. Mas, em 2017, houve a inclusão da temática da inovação na Secretaria. Como em Uberlândia a base do turismo é o turismo técnico-científico, fiquei ligado à pasta do desenvolvimento econômico. Isso foi algo natural. Uberlândia tem uma característica diferente: nós temos um Conselho de Desenvolvimento Econômico para planejar a cidade para 2100. Eu fazia parte da diretoria do Conselho na época, então trabalhávamos com alguns “drives” que achávamos importantes para o futuro de Uberlândia. Dentre eles estava a questão da internacionalização. Então foi esse grupo que começou a organizar essa temática dentro da cidade, e foi assim que cheguei na Diretoria.
Quando a prefeitura de Uberlândia passou a se interessar pela internacionalização? Quais foram os principais desafios?
Renato – Em 2016 começamos a reunir alguns grupos que tinham potencial para receber empresas ou para exportar – sejam produtos ou serviços – mas não tinham nada estruturado para isso. Quem começou a fazer esse estudo foi o Sebrae, que mapeou esse potencial. O Sebrae tem um entendimento de desenvolvimento de territórios associado à internacionalização que pode despertar e movimentar a cadeia de pequenos negócios. São as empresas internacionais que acionam o mercado local e, por isso, começamos a nos reunir com cada entidade. Primeiro, trouxemos aqueles que já tinham contatos internacionais. Houve o estudo do professor Armando Gallo (Universidade Federal de Uberlândia), que fala sobre a internacionalização de territórios, e que trouxe a metodologia do autor Panayotis Soldatos. Começamos a estudar um pouco mais sobre essas questões para ver de que forma a gente compatibilizava. Uberlândia tem suas características, é uma cidade grande, numa região que não se comunica muito com o estado e com a capital do estado. A capital do estado está a 650 quilômetros daqui. Acessamos mais São Paulo do que Belo Horizonte, e acaba que o triângulo mineiro tem uma vida própria, uma economia totalmente distinta de Minas Gerais. Minas Gerais é um dos estados que tem mais municípios no Brasil, são 853 municípios. Sendo que na nossa região tem 70 municípios, e esses 70 municípios são, na prática, os que têm maior poder de faturamento.
Sobre a iniciativa de elaboração do material “Viver e investir em Uberlândia”, como ocorreu?
Renato – Depois de todos os estudos e de optar por dividir as equipes em 4 grupos, os responsáveis pelo governo, pela sociedade, pela academia e pelo setor de negócios, vimos que havia algo em comum a todos. Precisávamos tornar qualquer cidadão de Uberlândia um embaixador da cidade, mas para isso precisávamos de um material.
“Precisávamos tornar qualquer cidadão de Uberlândia um embaixador da cidade, mas para isso precisávamos de um material.“
Seja para você colocar na mão de um professor que participa de um Congresso Internacional, seja para colocar nas mãos de um empresário que quer fazer um relacionamento com uma empresa no exterior. Então era necessário organizar os dados da cidade dentro de um material robusto. O Sebrae nos intermediou com uma empresa de Belo Horizonte, nos reuniu com esses atores e foram colocadas quais seriam as principais iniciativas que deveriam constar dentro desse livro. Esse livro espelha exatamente aquilo que achamos que nos torna competitivos internacionalmente.
Nós tivemos o trabalho de entender a nossa vocação, levantar quais seriam os segmentos com vocação e atratividade internacional
Então nós tivemos o trabalho de entender a nossa vocação, levantar quais seriam os segmentos com vocação e atratividade internacional, elegendo estes segmentos e trabalhando junto deles. Está bem descrito no livro, por exemplo, o agronegócio como uma setor em que a cidade pode se projetar, onde há tecnologia da informação e inovação, algo muito importante. A inovação é um dos principais ecossistemas do país. Há também a questão da saúde hi-tech, em que empresas daqui conseguiram unir saúde e inovação. Isso tudo está dentro do livro.
Na sua visão, todo município brasileiro consegue se internacionalizar? Quais as vantagens da internacionalização para os municípios?
Renato – Ao falar de internacionalização temos que entrar na questão da atitude global, que eu acho que até mesmo a nossa cidade ainda tem um desafio muito grande. Trazer uma pauta internacional para o município é muito difícil. O prefeito também é zelador, ele tem que tapar buraco, tem uma série de assuntos que tem que cuidar e às vezes é difícil perceber essa oportunidade que existe para fora. Geralmente os protocolos estão mais voltados para o estado, então trazer esse ambiente para dentro da cidade é um grande desafio. Uma única cidade não consegue se internacionalizar, o território sim.
Desde que você pegue territórios e vocacione eles, que é a segunda parte da internacionalização. A internacionalização que a gente imagina não é a de Uberlândia, é de uma região, porque nós temos potencialidades do café, de várias áreas que estão no entorno. Uma cidade por si só pode fazer comércio internacional, ela pode receber pessoas de fora, mas ela pode ganhar robustez.
Uma única cidade não consegue se internacionalizar, o território sim. (…) A internacionalização que a gente imagina não é a de Uberlândia, é de uma região.
Então eu não acho que toda cidade tem isso, acho que regiões têm, territórios têm. Então você deve vocacionar territórios para que eles se distingam e se tornem únicos.
Quais seriam os passos necessários para que outros municípios também se interessem pela internacionalização
Renato – É fundamental conhecer a própria cidade. Se você não conhece a própria cidade, como você vai vender uma imagem internacional? Então a gente tem que saber o que a gente é, onde queremos chegar, quais são nossas vocações, quais são nossos diferenciais, o que é competitivo nosso? Depois que a gente tem esse cenário competitivo, nós temos que trazer os países para cá, o que tal cultura tem e compartilha com a nossa? Nós trouxemos a Espanha, a China, os Estados Unidos. Trouxemos alguns países para que eles mostrem quais são os interesses deles. Israel esteve aqui também. Depois desse “namoro” você vai ter que criar os produtos de comunicação, os produtos de relacionamento. No início todo mundo pensava na questão de cidades-irmãs, tratados internacionais, e não é bem isso, é um trabalho muito grande que deve ser feito antes.