Representantes do CII da USP falam sobre projeto inovador de internacionalização por meio da cultura.

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Laura Izarra é professora titular da Universidade de São Paulo (USP). Foi vice-presidente e diretora da Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (2015-2021), presidente da APLIESP (Associação de Professores de Língua Inglesa do Estado de São Paulo), da Society for Irish Latin American Studies-SILAS (2006-2009) e da Associação Brasileira de Estudos Irlandeses-ABEI (2009-2018). É coordenadora da Cátedra W.B.Yeats de Estudos Irlandeses/USP (desde 2009) sendo responsável por intercâmbios acadêmicos nacionais e internacionais, incluindo o grupo nacional de pesquisa “Narrativas literárias e identidades em espaços diaspóricos de língua inglesa” e as redes internacionais de pesquisa da Cátedra sobre trauma cultural e crise da democracia sob o olhar da literatura. https://catedrawbyeats.fflch.usp.br/  Sua pesquisa de pós-doutorado foi no Institute of Latin American Studies, University of London e Trinity College Dublin (2004). Foi professora visitante na Universidad Nacional de La Pampa, Argentina (1997, 2006, 2015) e Jawaharlal Nehru University, Nova Delhi (2013). Seus projetos interdisciplinares na área de estudos pós(de)coloniais e das diásporas resultaram na autoria de artigos, livros e exposições. 
Jonathas Carvalho é formado no bacharelado e no mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha no escritório internacional da USP desde 2012, onde atualmente é assistente de direção e responsável pela Comunicação Institucional.

Você poderia começar falando um pouco sobre o Centro Intercultural Internacional (CII) da USP e suas atividades?

Jonathas: O Centro Intercultural é ligado à reitoria da USP, é o local onde recebemos as delegações de consulados e embaixadas. Nessa interação conosco eles recebem um convite para que tragam suas culturas para um espaço dentro do Centro, com algumas atividades semanais ou mensais sobre a cultura deles, com o intuito de que os brasileiros conheçam, como os nossos estudantes e a comunidade externa. Esse convite inicial, então, vira uma tramitação, um convênio que é assinado conosco para utilizar o espaço durante um determinado período de tempo. Hoje, nós temos cinco países representados nos corners, por enquanto são: Coreia do Sul, Israel, Irlanda, Índia e a França, mas temos espaço para quase 15, porque é bastante grande o espaço. Temos planos agora com a província de Quebec, os Estados Unidos e a Alemanha, que estão em tramitação.

Em relação às atividades, os consulados as desenvolvem e o Centro apoia elas, com a infraestrutura e o nosso escritório de relações acadêmicas. Então fazemos essa gestão, eles organizam os eventos e me enviam o release, porque sou o responsável pela comunicação, daí fazemos o texto e a publicação para uma ampla divulgação. Por exemplo, a Coreia do Sul fez a segunda edição de uma feira em maio deste ano que contou com, aproximadamente, 900 inscritos, porque a Coreia está muito em evidência aqui em São Paulo, é uma febre. Israel também promove eventos, por exemplo, exibição de filmes, aulas de culinária e debates em hebraico. A Irlanda faz rodas de conversação, então as pessoas vão lá por dois dias na semana e falam inglês durante uma hora e meia. A Índia faz palestras sobre a vida na Índia, o ambiente cultural deles e como socializar com os indianos. A França faz workshops, traz palestrantes que são professores franceses, através do Campus France. Então, as atividades são bem diversificadas e idealizadas por eles, daí nós aprovamos e apoiamos os eventos, às vezes damos sugestões também porque as relações são profícuas.

O que são os ambientes internacionais ou espaços de atividades culturais (chamados de cantinhos ou corners)? Como foram criados e como funcionam? 

Laura: Primeiramente, sendo a internacionalização nas universidades uma prioridade para todos nós, seja aqui no Brasil ou no exterior, todos os alunos devem ter a oportunidade de conviver ou participar de um processo de internacionalização. Os espaços interculturais proporcionam esse intercâmbio dentro do próprio campus da universidade. Esses ambientes permitem que tanto os alunos USP, como os intercambistas que estão estudando no campus, possam conviver e ter experiências acadêmicas não somente na Faculdade onde estuda, ou na disciplina, ou curso que vieram fazer por um tempo determinado, mas convivendo com todas as áreas. Podemos dizer aos alunos estrangeiros que o Centro Intercultural Internacional é um espaço onde podem se encontrar, socializar, falar de seus interesses entre eles e com nossos próprios alunos, saber sobre outros cursos, sejam da USP ou de sua própria universidade, praticando simultaneamente, a língua brasileira e estrangeira

Então a ideia é que em cada um desses espaços, que chamamos de “corners”, as pessoas possam ter esse contato não só com a cultura desse país responsável pela instalação do “corner”, mas também conhecer as oportunidades de estudo no exterior e naquele país especificamente. É um ponto de encontro para receber alunos que vêm dessas universidades e estar, de certa forma, interconectados internacionalmente dentro do próprio campus. Antes de idealizar esses espaços, trabalhando na USP como professora e fora do escritório de internacionalização, pois sempre trabalhei com docentes do Brasil e do exterior em intercâmbios e redes de pesquisa, sentia que esse contato, seja com o nacional ou com o internacional, ficava diluído dentro da instituição, principalmente a USP que é muito grande onde interagem vários campi que cobrem diferentes áreas de conhecimento. Assim como acontece com outras instituições brasileiras, sempre é mais um intercâmbio entre professores e esses colocam apenas os seus alunos em contato com as outras instituições. Portanto, o espaço de intercâmbio criado é um espaço muito restrito, pessoal e, podemos dizer, muito fechado

Formar um Centro Intercultural Internacional como a USP fez, ligado à reitoria, ampliaria essa ação. Vi que também os alunos estrangeiros eram recebidos uma vez por semestre ou por ano, dando-lhes as boas vindas e mostrando-lhes o campus onde ficariam durante sua estadia acadêmica, mas depois ficavam espalhados na universidade e não havia uma interação intercultural maior, embora sua experiência pessoal ficava registrada em questionários de avaliação. Por outro lado, nossos próprios alunos que faziam estágio no exterior com bolsas da USP, do governo brasileiro ou de universidades estrangeiras, quando voltavam, não havia um espaço para compartilhar todas as experiências que tiveram lá fora. Então, isso foi o que mais motivou a criação desses “corners” que representam a cultura e oportunidades na área de  educação de seus países. Participando de congressos no exterior e conhecendo universidades como Stanford ou Davis na Califórnia, observei que seus prédios de relações internacionais ofereciam um espaço no qual os alunos estrangeiros estavam estudando, conversando e socializando entre eles ou com os alunos do campus. Senti falta disso na nossa instituição.A partir daí que idealizamos esses “corners”. Nossa universidade, quero dizer, nosso prédio de internacionalização tinha espaço livre, mas não tínhamos mobília e nem verba para criarmos os espaços interculturais. Então, surgiu a ideia de convidar os consulados ou embaixadas de países com as quais tínhamos universidades parceiras importantes que participavam em redes de pesquisa com financiamento de seus próprios governos. Assim, convidamos eles para fazer uma instalação simples, mas com a responsabilidade de mobiliar esse espaço e trabalharmos juntos na divulgação de sua história, cultura e oportunidades de estudos. Convidamos também aos  professores de línguas que monitoram as atividades dos próprios alunos, os quais recebem créditos das atividades culturais como extracurriculares, enquanto as embaixadas ou os consulados podem trazer atrações nas suas datas importantes de celebração histórica ou artística, como a data nacional de independência, ou de escritores laureados. Então, é uma troca que fazemos com as embaixadas e os consulados, porém sempre com um viés acadêmico sob a responsabilidade dos professores da área e da Direção da AUCANI.

Jonathas: São pontos de representação da vida social e cultura de cada país, bem como a interação deles com os brasileiros, com as oportunidades de intercâmbio, por exemplo, de pesquisa e bolsas. Nós procuramos representar o país e trazer também boas novas para o nosso público: a comunidade USP e a externa. Então esses corners são os cantinhos, eu diria, de cada um desses países. A gente tem um espaço dedicado ao Brasil, então no futuro podemos ter um corner e tratar acerca da cooperação nacional com as federais, por exemplo, e a partir daí trazer estudantes de outras federais para a USP e fazer o contrário também. A exemplo da nossa escola politécnica, com uma cooperação nacional muito forte, no qual os alunos da USP fazem pesquisas em universidades portuárias muito importantes, e é isso que nós queremos: ir além da cooperação internacional. 

Em 2018, surgiu essa ideia da profª Laura Izarra, professora da Faculdade de Filosofia e Letras da USP Ciências Humanas, era a nossa vice-presidente e por trabalhar bastante com a Índia e a Irlanda queria desenvolver mais a cooperação, por meio de um programa que trouxesse esses países para perto. Como nós tínhamos muito espaço, junto com o nosso presidente na época, o professor Valmor Tricoli, da Educação Física, eles desenvolveram a ideia e criaram uma portaria que foi aprovada pelo reitor. Nessa portaria, o plano era iniciar os corners em 2019, mas postergamos para 2020 e veio a pandemia. Então, a inauguração oficial foi no final de 2021,  mas bem daquele jeito, com umas 20 pessoas, distanciadas e com máscaras, foi assim que começou. O nosso primeiro corner foi a Coreia do Sul e eles organizaram tudo de forma bem planejada e depois vieram outros, os principais parceiros da professora Laura, como a Índia, a Irlanda, além da França. A partir da ideia da professora Laura, entramos em contato com as embaixadas, no qual os trâmites são gerenciados pela área de convênios. A profª Marly Babinski, atual vice-presidente, fica na gestão dos espaços, com o fornecimento de documentos, e o Escritório Internacional de Recepção é focado no apoio aos eventos internacionais que fazemos lá.

Qual a relevância em se criar corners culturais dentro do ambiente universitário? Quais objetivos e resultados vocês pretendem alcançar com essa iniciativa?

Laura: Acredito que esses espaços têm uma relevância e um impacto muito grande e vemos isso pelos próprios alunos que estão começando a circular e a conhecer os “corners”. Por quê? Porque é um ambiente no qual estão conversando com seus pares sobre suas angústias, expectativas e projetos de vida, o qual dá um resultado muito melhor. As propostas e sugestões não vêm do professor apenas, mas especialmente entre os próprios alunos que se encontram voluntariamente para poder praticar a língua, se informar mais e estabelecer redes de intercâmbio entre eles. Isso é muito relevante porque esses alunos, que são o futuro de nossas universidades e futuros profissionais, vão criando as redes de intercâmbio de conhecimento a partir da graduação e continuam com esses contatos em uma pós-graduação ou na sua própria profissão. Por esse motivo, acredito que o impacto é muito maior a médio e longo prazo. Isso parte dos alunos, mas é importante que os professores também participem e visitem os “corners”. Por exemplo, ministro uma disciplina que se intitula Literatura e Diferença e sempre dou uma aula dentro desse espaço, seja da Irlanda ou da Índia, dependendo do tema sobre a cultura do país que estamos estudando e que faz parte da minha rede de pesquisa. É uma forma para que o aluno conheça o “corner”, porque ele não fica no prédio onde assistem às aulas, e tenham acesso a outras informações que possam ser úteis para seu futuro profissional. Cabe muito aos professores de história, sociologia, linguagem, literaturas, até mesmo de economia e de outros campos do saber, visitar o Centro Intercultural Internacional para os alunos conhecerem e criarem suas próprias oportunidades na formação profissional. 

Nós vemos que a universidade tem convênios com muitos países e universidades estrangeiras, não só na área de humanidades, mas também em tecnologia e ciência; porém, sem conhecimento da cultura desse país, os alunos, seja aqui dentro do campus ou em universidades no exterior, não vão ter o aproveitamento mais profundo do que teria com o conhecimento prévio da cultura do país que os recebe. Conhecendo a cultura saberão como dialogar dentro do seu próprio campo de pesquisa, seja tecnológico, científico ou de humanidades. Nesse sentido, acredito que o impacto é muito maior e, por vezes, temos que conscientizar os nossos alunos e a administração das universidades de que é possível uma internacionalização dentro de casa, como nós a chamamos, porque é importante não só sair para o exterior, mas trazer ele para nós.

Hoje, principalmente, com a internet e tantos outros recursos que temos, sabemos que isso é possível de se fazer. Por exemplo, durante a pandemia, situação tão terrível que todos nós passamos, nos mostrou que também podíamos fazer o intercâmbio online. E na minha experiência, dentro da Aucani, nós fizemos uma rede de rodas de conversa em diferentes línguas e se inscreveram alunos até do Brasil para fazer parte desse intercâmbio online. Apenas com a prática da língua escolhida e conversas sobre as universidades e como estavam enfrentando a pandemia, pessoal e academicamente. Vários desses alunos do exterior quanto do Brasil tiveram que suspender sua viagem de intercâmbio, mas ficaram conectados com a nossa universidade. Então, esses centros que criamos, físicos e online, permitem a interação internacional e nacional. Esse intercâmbio nacional é algo que, agora, precisa ser ainda mais incentivado, por exemplo, com sua universidade e entre as outras do Brasil.

Jonathas: O principal ponto é o trabalho de internacionalização que chamamos de “At home”, por meio do qual trazemos o internacional para “dentro de casa” visando mostrar aos brasileiros as oportunidades e a cultura para se interessem pelo estrangeiro, além de dar voz aos nossos alunos que são estrangeiros. Nós temos recebido mais ou menos 2 mil alunos de fora que, apesar de acharmos um número alto, ainda é pouco se comparado às universidades estrangeiras, só que para a nossa realidade de um país muito isolado, talvez, geograficamente, é um bom quantitativo. Só que o pessoal tem muita curiosidade sobre o Brasil, então os corners são relevantes por deixar o país mais próximo dos países e também trazer o mundo para a USP, para os nossos 100 mil alunos. Então nós queremos ampliar esse contato com o internacional, ao mesmo tempo que queremos reforçar a cooperação nacional, tanto que o nome da Agência USP no qual o Centro está inserido é Aucani, isto é, Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional.

Os objetivos dos corners, por serem espaços de interação, é de oferecer a criação de uma comunicação contínua, onde os alunos podem vir inclusive estudar aqui dentro dos espaços. Cada cantinho tem uma estrutura diferente, com sofá, uma cadeira confortável, então tem como o pessoal ligar o computador e trabalhar aqui. Existe também a interação com equipamentos, por exemplo, no corner da Coreia do Sul tem tablet por meio do qual é possível pesquisar sobre o país, assim como livros importantes para a cultura coreana.  Então a pessoa pode ir ler, se for no corner da França poderá ler um livro francês, ou seja, há todo o aparato para que as pessoas se sintam confortáveis e tenham esse ponto de encontro. Nós temos um programa grande de interação entre os alunos USP e os estrangeiros, então os da USP costumam ajudar esses alunos estrangeiros a se adaptarem à universidade, desde auxiliar eles a conseguirem um bilhete único até o visto. Então é um importante ponto de encontro cultural para que todos se sintam bem à vontade e compreendam a cultura do outro.

Acerca do planejamento desses espaços interculturais, há algum fator específico para a escolha dos países? Quais elementos são levados em consideração para a criação de corners culturais de determinados países?

Jonathas: No lançamento do Centro nós enviamos convites para todos os consulados virem, então não escolhemos os países, convidamos todos para que pudessem vir e conhecer o centro durante a inauguração do corner da Coreia do Sul. A ideia foi que eles analisassem de que forma teriam capital para colocar uma estrutura representando os seus países aqui, porque eles precisam comprar tudo, então é tudo dinheiro deles. E aí, na verdade, nós não escolhemos, estamos com as portas abertas e eles acabam decidindo vir ou não, até por ser uma cidade bem vista, eles vêm até aqui e participam com a montagem do cantinho deles. Nós temos uma cooperação muito forte com determinados países, dos quais insistimos na aproximação para terem um corner, como a França e a Alemanha. Mas, por exemplo, nós nem cogitamos ter o Japão porque já existe uma Casa de Cultura japonesa dentro da USP, um prédio só deles. Então, assim, acho que eles nos escolhem, mas nós procuramos atraí-los pelo espaço de qualidade que temos, o próprio nome da USP e a grande visibilidade por ser uma referência assim como outras universidades públicas. Para eles, então, é como uma vitrine no qual podem vir e fazer tudo com reciprocidade, por exemplo, dentro dos nossos convênios de intercâmbio com qualquer país nós pedimos a isenção de taxas acadêmicas, então nossos alunos não pagam nada para estudar fora. Assim, a gente pensa no nosso público, mas também dá visibilidade para eles.

Em relação ao funcionamento desses espaços, quais têm sido os principais problemas ou desafios enfrentados? E quais foram os impactos positivos obtidos até o momento?

Jonathas: Em relação ao funcionamento, posso dizer que a nossa comunicação é boa, nos entendemos bem, mas cada país, por exemplo, tem um jeito de fazer o evento. É diferente para cada país, como a Irlanda e a Coreia do Sul que estão sempre abertas, por exemplo, a Coreia que precisa interromper as inscrições porque não comportamos no nosso espaço a grande procura. Certa vez tinha uma barraca de degustação na feira coreana deles com tudo de graça e se formou uma fila que alcançava o outro prédio. Então, o funcionamento dos corners depende de muitos fatores, sempre vem alguém para organizar o espaço, mexer nos livros, reorganizar para ficar tudo arrumado, porque a manutenção é por conta deles, mas estamos sempre mantendo contato. Assim, se sumir um livro nós temos as câmeras e podemos conversar sobre o ocorrido, ou se tiver algo dando errado na televisão, nós avisamos, então estamos sempre em comunicação. 

Um impacto positivo que conseguimos alcançar foi a visibilidade da USP, trazer newsletters, por exemplo, em que os eventos estão presentes e comunicar que recebemos os países aqui e são todos bem-vindos, sobre o sucesso. A visibilidade da USP internacionalmente, bem como das universidades brasileiras,  porque não nos promovemos muito, mas é preciso fazer isso para os parceiros internacionais se aproximarem das nossas instituições, então o governo brasileiro acaba aparecendo. Não apenas a nossa, mas também a visibilidade dos países do Centro, então trazer a cultura da Coreia, por exemplo, para a comunidade USP e quem nunca ouviu falar de nada deles, não sabem como os coreanos se vestem, o que escutam, conhecer o BTS, comer alguma comida deles.  Então, para a gente é muito gratificante trazer a internacionalização para dentro de casa.Os alunos estrangeiros da USP podem se interessar por cidades fora de São Paulo, então temos um corner do nosso país. Nós poderíamos falar de outras universidades, que são tantas e importantes em cada região. Então os corners têm esse diferencial porque é uma ideia inovadora dentro do Brasil, talvez não tenha nenhuma outra universidade brasileira com essa iniciativa de reunir países dentro do mesmo espaço. Acredito que essa ideia da profª Laura é o começo de talvez uma tendência no Brasil para desenvolver uma cooperação nacional forte e que promova oportunidades para os estudantes, nós pensamos muito em ir para fora, mas nós também podemos receber essas pessoas de outros países aqui e intensificar a cooperação.

Na sua percepção, como a cultura e as ações voltadas para a promoção cultural podem beneficiar não somente a comunidade acadêmica, mas a sociedade local de forma mais ampla?

Laura: O nosso Centro Intercultural não está fechado só para os alunos da comunidade, do próprio campus, mas está aberto à comunidade externa da USP. Inclusive, os próprios alunos de pós-graduação promovem, às vezes, cursos de difusão cultural, também para pessoas interessadas que vêm de fora da USP, assim como oferecem cursos híbridos e online em que os alunos de outras universidades participam. Assim, não tem essa preocupação de ter créditos para fazer qualquer tipo de curso, ao contrário, a sociedade em geral precisa justamente ter acesso à universidade, assim como o CINUSP ou o teatro da USP que sempre estão abertos ao público. O Centro Intercultural também está aberto a todos. Essa é uma forma de trazer uma maior compreensão da cultura estrangeira e da própria cultura; é um espaço de conscientização das pessoas de que a cultura do outro não é superior à nossa, ele promove o diálogo e um processo de decolonização de nossas mentes; coloca em xeque pensar que o que vem do exterior é melhor do que o que nós podemos oferecer

Então, o nosso interesse é mostrar que o conhecimento que se constrói, não somente aqui nas nossas universidades no Brasil, mas também na América Latina, é um conhecimento que só nós podemos valorizar e não podemos esperar que seja valorizado justamente pelas grandes potências e as pessoas que estão, de certa forma, nos países mais desenvolvidos. Nós também somos um país desenvolvido econômica e intelectualmente, especialmente, construindo conhecimento de alto valor qualitativo. Porém, muitas de nossas universidades nem sequer entram nos rankings. Por quê? Por que só se consideram publicações que são em inglês? Certamente existe uma língua de comunicação mais poderosa. A língua inglesa é a língua de intercâmbio por excelência, porém, temos que ser avaliados também pelas nossas próprias publicações realizadas nas nossas línguas. Até o estilo de ranking para a América Latina, que conta só as publicações em inglês, mostra que, realmente, continua existindo uma colonização do conhecimento. Então, acredito que através desses espaços interculturais, os nossos alunos podem ter essa consciência de comparação e de reconhecimento em relação ao valor do conhecimento que estão construindo dentro do seu próprio país, além de compreenderem a importância de divulgá-lo no exterior, porque senão, iremos sempre receber apenas o conhecimento mais dominante.

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