A senhora poderia falar sobre a sua atuação na áreada cooperação internacional dentro do Gabinete do Estado da Bahia?
Caúra: Quando ingressei no Gabinete, em 2008, eu já estava me especializando em Cooperação Internacional. Para mim foi um presente muito grande porque eu já entrei com o direcionamento para a África. Iniciamos os nossos trabalhos de cooperação com 7 projetos de cooperação Sul-Sul. Nós fomos o primeiro estado no Brasil a executar a Cooperação Sul-Sul. A gente colaborou com países como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique, Tanzânia e com dois países da América Latina, El Salvador e República Dominicana. Foram projetos de cooperação em diferentes temas que monitoramos, coordenamos e participamos diretamente. A atuação internacional da Bahia sempre foi proativa, apesar de ser uma estrutura dentro do gabinete do governador, não somos mais uma secretaria. Eu entrei na assessoria internacional em 2021. A gente possui atualmente uma estrutura mais finalística, sempre para responder às demandas da agenda do governador. Mas, à época [da coordenação], nós já tínhamos uma visão estratégica das relações internacionais. O governador permitiu que a gente conseguisse instalar duas coordenações dentro da assessoria internacional. Uma de cooperação e uma de negócio internacional. Na área de cooperação, nós acabamos tendo maior proatividade, porque havia um alinhamento com a política externa brasileira. Acabamos praticando a cooperação no primeiro momento. Foi muito intenso, né? Sete projetos. Sabemos que projetos de cooperação não acontecem da noite pro dia. Então, os projetos levaram três, quatro, cinco anos. Além disso, nós já realizamos cooperação com a França e a Itália, o que foi muito importante para nós.
A Bahia sempre procurou se inserir internacionalmente, não só através de projetos, mas também de memorandos de entendimento, protocolos de intenção e acordos dentro de um instrumento maior de cooperação. São os três instrumentos jurídicos que mais utilizamos e, com esses instrumentos jurídicos, montamos um plano de trabalho.
Os últimos seis anos foram realmente difíceis porque a orientação da política externa foi completamente contrária à nossa ideologia de cooperação. Não nos favoreceu. A gente está com alguns projetos parados e, por isso, estamos trabalhando mais no plano bilateral, que é o canal da paradiplomacia, mas voltado também com ações de cooperação direta. Então, a trajetória da cooperação internacional da Bahia se caracteriza dessa forma. Tivemos um início em 2008 muito forte e até hoje tem sido muito forte nas relações de cooperação Sul-Sul e na cooperação recebida de países do Norte, além de novas ações diretas do governo estadual como organismos internacionais. Eu sei que é algo que ainda não se valida muito, mas a cooperação direta dos estados e municípios, dos entes subnacionais, é um processo irreversível. É a forma que os estados e municípios têm de buscar desenvolvimento local, através da cooperação e dos acordos de atração de investimentos.
Fomos proativos no sentido de buscar oportunidade de cooperação descentralizada. Em cada visita de autoridades e embaixadores, nós tentamos identificar temas em que há possibilidades para cooperar, ou que tenhamos facilidade de prestar a cooperação e levar a nossa experiência à frente, como é o caso do Programa Mundial de Alimentos. É um programa da agência da ONU que participamos e prestamos cooperação. A gente leva a cooperação para a agência, que por sua vez passa a implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Como possuímos a agricultura familiar muito rica no Estado, sendo que 70% da nossa população faz parte da agricultura familiar, conseguimos cooperar com eles com a transferência de conhecimento e, com esse programa, já beneficiamos quase um milhão de crianças na África. Então, acredito que a Bahia possui uma trajetória positiva, proativa, em que estamos tentando identificar oportunidades e formas de cooperar.
A Bahia é um dos estados do Nordeste mais ativos internacionalmente. Qual é a importância dessa atuação internacional para os entes federativos brasileiros (os estados e os municípios)?
Caúra: A paradiplomacia se tornou uma ferramenta para desenvolver o nível local como alternativa diante de situações em que o governo federal não consegue oferecer e trazer formas de desenvolvimento. Somos um país continental e isso faz com que enfrentemos muita dificuldade. Só a Bahia tem 417 municípios, então imagina que eu tenho uma distância menor de Salvador até o Recife do que a última cidade no oeste da Bahia. Isso já traz um mínimo de dificuldade que é inerente geograficamente. A cooperação, a atuação internacional, a atração de investimentos e a paradiplomacia em si vêm realmente como um recurso e um instrumento de desenvolvimento local. É a forma que a gente consegue buscar empresas, experiências e tecnologias para transferi-las para o local, para que pelo ensino, pela faculdade e/ou o estado possa desenvolver e gerar receita. A paradiplomacia é hoje o instrumento que os entes federativos conseguem se posicionar internacionalmente, se mostrar e, através disso, conseguir recursos, investimentos, financiamentos externos. Então, a importância é essa: o desenvolvimento local através da internacionalização. A gente ganha muito na própria experiência. A importância da experiência em tecnologia traz um intercâmbio muito grande de cultura, mas o impacto do desenvolvimento através da internacionalização de entes, seja municipal ou estadual, é grande e significativo. A Bahia possui o maior parque eólico do país. Então, como foi isso? Foi através da paradiplomacia e da cooperação, através de mostrar a cara da Bahia no mundo pela atuação descentralizada. Claro que a Bahia possui um potencial nato para a energia eólica e solar. Mas, se não tivéssemos ido lá fora mostrar o que era Bahia, o que a gente tem para oferecer de incentivo, não íamos conseguir ser o maior parque eólico da América Latina. A partir da atração de empresas instaladoras de parques eólicos e solares, conseguimos desenvolver e atingir comunidades locais tradicionais com o fornecimento de energia elétrica. Dessa forma, a internacionalização acaba beneficiando e desenvolvendo bastante a população local.
A Bahia possui um rico patrimônio histórico. Como a área de cooperação internacional desenvolve ações voltadas para esse tema? De que forma a cultura tem sido compreendida e pensada internacionalmente?
Caúra: A gente respira cultura, o Estado da Bahia é cultura viva. De 2008 a 2014, tivemos muitas ações bilaterais de cooperação na área de cultura, porque temos uma dívida muito grande por conta do sistema escravagista, e a gente buscou trazer uma reparação a esse dano. Hoje, Salvador possui a maior população negra fora da África. Conseguimos levar algumas ações de cultura que, na verdade, herdamos, o que é um pouco paradoxal, porque a cultura que nós temos hoje é a cultura de quem trouxe dos nossos ascendentes decorrente da colonização. Por isso, o que fazemos hoje é registrar a cultura nativa da Bahia, a cultura indígena. O atual governo possui uma pauta forte para a área indígena,
Hoje não temos projetos específicos ou acordos de cooperação na área de cultura, mas o que temos é, por exemplo, a realização de assinatura de memorandos de entendimento. A partir daí, conseguimos cooperar na área de patrimônio e de bibliotecas, como por exemplo conseguimos compartilhar, virtualmente, todo o acervo da Biblioteca Lincoln nos Estados Unidos. Então, a gente consegue ações nesse sentido. Fora isso, há muito intercâmbio de artistas, de culturas, de teatro, de música e de crença através da Secretaria de Cultura. Já participamos também de algumas ações da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) para levar para outros países a capoeira, uma dança típica da Bahia. Através dessas ações já formamos mais de 600 jovens mestres da comunidade capoeirista. O nosso atual foco é difundir a Bahia e colocá-la no mundo. O que a gente tem de cultura é o que a gente já viveu. Em parte, é pedir licença para poder incorporar a cultura e chamar quem trouxe para poder cooperar nessa área. O que temos de mais rico aqui, em termos culturais, a gente tem buscado difundir. Hoje há uma política de cultura muito forte, na sorte de ter vivido nos seis anos com divergências em relação às orientações de política externa. Atualmente temos uma ministra da cultura que é baiana, que é negra, e isso tem facilitado bastante para reformar as ações. Mas, nos últimos 14 anos, atuamos de forma mais bilateral, de governo a governo, através de agências, como a UNESCO, através da patrimonialização de bens históricos da Bahia. A gente tem buscado agir assim para poder reconhecer a nossa cultura e poder levar adiante, porque a questão cultural não é muito fácil no Brasil. Na verdade, é um desafio muito grande atuar internacionalmente na área da cultura, porque as pessoas enxergam apenas como festa, é “oba oba”, “ah, a Bahia é carnaval”, que a cultura da Bahia é apenas o carnaval, mas não é só carnaval. Carnaval é a maior festa que nós temos, é verdade, a mais tradicional e típica. Porém, precisamos vencer esse desafio de que a cultura não é apenas isso.
Existe algum projeto de cooperação específico do estado da Bahia, que na sua opinião, se destacaria dentro do tema da cultura? Qual e por quê?
Caúra: A cooperação com a capoeira através da ABC. Nós recebemos uma visita de ministros na área de cultura e da educação de Cabo Verde. Eles vieram, conheceram a Bahia e a capoeira, e ficaram encantados. Depois disso, eles fizeram formalmente uma solicitação de cooperação para a formação de jovens na área capoeirista em Cabo Verde. A ABC liderou a cooperação e nos convocou, já não tinha como escolher outro ator que não a Bahia para que a cooperação fosse feita. Nós enviamos mestres capoeiristas para residir em Cabo Verde durante o tempo para formar esses jovens. Foram mais de 600 jovens ao longo do projeto, de 600 jovens que se formaram em 600 mestres, os quais são multiplicadores, pois vão atingir outros, podemos colocar pelo menos outros 10 jovens por mestre. Então, foram muitos jovens beneficiados, cada um vai levar a capoeira para outros e consequentemente consegue atingir uma parcela da população muito considerável, já que a população total de Cabo Verde é pequena. Por isso acredito que, dentro do contexto de cultura, foi o projeto mais impactante e o mais abrangente.
Nos outros projetos, fazemos mais a residência artística, por exemplo, já levamos Ilê Aiyê e o grupo Olodum também, para poder fazer formação também de jovens. Os projetos dentro do contexto da cultura são mais voltados à formação de jovens que não possuem uma perspectiva de futuro e de vida profissional. Acredito que trazer o desenvolvimento social através da preparação internacional é o mais impactante e, por isso, é algo que acaba nos atraindo muito. Conseguimos levar uma perspectiva de vida melhor, por exemplo, para jovens que foram formados pelo Olodum e pela Ilê Aiyê, que vieram para cá e passaram entre seis e doze meses, dependendo do programa, e hoje estão formando outros jovens que estão refugiados na Europa. Isso para a gente é bastante impactante, porque eles vieram receber a formação aqui, através de projetos locais e estão na Europa difundindo o que aprenderam para jovens refugiados.
Atualmente também recebemos muitos jovens venezuelanos, que vieram refugiados do seu país e estão na Bahia pelo programa de interiorização do Governo Federal. Esses jovens que vieram fazer residência aqui também estão sendo inseridos em programas de profissionalização, alguns dentro de formação profissional por meio da cultura. Quando falamos em cultura, as pessoas pensam que a gente quer só festa, que vamos cooperar na cultura e mostrar apenas as festas populares, mas, para além disso, a cultura também é um instrumento de profissionalização que salva vidas. Quantos jovens que saíram da marginalidade e se profissionalizam através do teatro, através da capoeira, da própria cultura de formação? São muitos. Nesse sentido, a cultura é um instrumento muito forte.
Uma das ações também de maior impacto foi uma cooperação que tivemos com a Colômbia através do programa deles, pelo qual levamos a nossa orquestra juvenil. Na Bahia, temos o projeto do NEOJIBA, um núcleo composto por grupos de jovens em situação de pobreza e de vulnerabilidade social, que a gente capacita, de forma gratuita, e forma músicos. A NEOJIBA é uma orquestra, assim como existe a Orquestra Sinfônica da Bahia, só que formada de jovens e crianças. Chegamos no local dessa orquestra local para formarmos jovens colombianos de condições similares, mas essa cooperação foi feita de governo com governo sob direção da ABC. Eles vieram para cá e receberam a capacitação, inclusive um deles ficou aqui durante cinco anos fazendo um curso de maestro para voltar à Colômbia e poder replicar o conhecimento adquirido e montar uma orquestra. A Orquestra tem tomado força visto que esse formato de orquestra funciona bastante porque tira o jovem da marginalidade e dá esperança de um futuro diferente através da música. Na minha opinião, é um projeto bastante impactante socialmente. A NEOJIBA é um programa de governo que faz parte da Secretaria do Desenvolvimento Social e veio através de uma cooperação com a Venezuela. Nós trouxemos o modelo de orquestra de lá para a Bahia e transformamos em uma política pública. A NEOJIBA realmente é algo que hoje é muito importante porque é para todos pois reúne jovens e crianças que vêm de comunidades e estavam em condições totalmente vulneráveis e concede a oportunidade de, por exemplo, viajar e se apresentar com a orquestra para diversos países. Não é um programa gratuito apenas para participar, mas para mostrar o projeto profissionalmente ao mundo. Acredito que os dois projetos, o da capoeira e o da NEOJIBA, apresentaram resultados positivos e impactantes para nós.
É incrível como a cultura gera efeitos multiplicadores e não está apenas voltada à diversão, mas possui interligação com a questão da inclusão social ao conceder novas oportunidades e perspectivas de vida, o que antes os jovens não tinham, mas através da música podem, por exemplo, crescer profissionalmente, ter independência em vários sentidos. Nesse sentido, é uma grande oportunidade visualizar a utilização do impacto positivo da cultura, não somente socialmente, mas economicamente também, já que essas pessoas beneficiadas pelos projetos culturais vão trazer resultados de volta ao local.
Caúra: É claro, porque antes estes jovens faziam parte de uma população que estava economicamente inativa, não participavam do índice de remunerados. Agora eles têm alguma renda. Inclusive, há jovens que participam da NEOJIBA e que hoje estão espalhados na Europa, por terem recebido convites para fazer residência e ingressarem em orquestras e de escolas de música, principalmente na Alemanha, na Itália e na França. Os países europeus passaram a conhecer essa “fonte” e se encantavam com talentos de idade tão jovem, de uma força tão grande, tão infinita, e eles queriam pegar toda essa mão de obra qualificada, porém barata na época, visto que, querendo ou não, a moeda deles é supervalorizada em relação a nossa. Os países europeus queriam absorver essa mão de obra. Então, criamos um programa de intercâmbio dentro da NEOJIBÁ para não “perder” todos os nossos jovens visto que eles são talentos atrativos. Assim, atualmente o programa concede a oportunidade para que eles consigam ir para esses países para serem mais capacitados e, consequentemente, possam voltar para o Brasil e formar outras pessoas. Foi uma estratégia para que não haja apenas egressos do programa, mas que consigam realizar o intercâmbio até atingirem certa idade. Nesse sentido, o programa tem uma limitação de faixa etária, que é voltada para jovens mesmo.
A partir da sua percepção e trajetória na área internacional, qual organização e entidade internacional tem sido acessível e sensível à temática cultural?
Caúra: Sobre a organização, a Unesco hoje é uma das que mais atuam na área internacional com a cultura. Além dela, a Organização dos Estados Ibero-americanos também atua muito. Atualmente estamos trabalhando no projeto Coliga, que já é conhecido nacionalmente, e agora está na fase de pesquisa na Bahia para fazer a formação profissional de jovens na área de cultura, teatro, música, cinema e direção. Essas duas organizações são os agentes internacionais mais sensíveis para a cultura que eu mais tenho cooperado e tenho tido interface. Em temas específicos como mulher e criança, as agências da ONU acabam trazendo um pouco de cultura em nichos específicos, como é o caso da ONU Mulheres.
Dentro da perspectiva cultural, é possível trazer investimentos para o estado?
Caúra: É possível. Já tivemos alguns investimentos indiretos. Pelo exemplo da NEOJIBA, é uma política pública que recebeu investimentos da empresa Braskem por meio do patrocínio das peças de plástico para os instrumentos musicais, que são todos feitos desse material. A gente consegue trazer investimentos na área da cultura, mas é bem pontual. Não existe hoje muitos, infelizmente, pela questão da consciência do nosso país mesmo, acho que é nossa “cultura”. Poucos investidores acreditam que a cultura traz uma rentabilidade. Então, mudar essa consciência, essa cultura de pensamento, é um desafio. Nós conseguimos sim trazer empresas para investir na cultura, mas não são empresas da indústria cultural. Por exemplo, quando uma empresa de energia faz projetos do âmbito social e também destina projetos culturais, mas não é uma indústria da cultura no sentido de que está produzindo cultura, como uma grande produtora internacional. Pode vir a ser no futuro mas, infelizmente, a cultura de pensamento do nosso país acaba bloqueando um pouco. No entanto, é possível atrair investimentos. Na verdade, temos atualmente muito mais investimentos locais do que internacionais. A nível internacional, não acontece de forma direta, mas através das cooperações, dos financiamentos e dos intercâmbios que patrocinam as ações e os projetos. É a forma que conseguimos investimento, mas não é derivado de uma indústria cultural.
Quais têm sido as principais dificuldades para a atuação internacional do estado da Bahia e que conselhos você daria aos gestores dos governos locais e estaduais do Nordeste como incentivo para que tenham maior envolvimento em projetos de cooperação internacional?
Caúra: De forma geral, as principais dificuldades nos últimos seis anos estavam mais relacionadas ao direcionamento político do Brasil. Nós tivemos uma agência de cooperação parada e projetos parados. Os desafios que existiam antes disso, a gente continua enfrentando, como a insensibilização dos órgãos de controle, que muitas vezes não entendem quais são os recursos que nós apanhamos e investimos em uma participação de paradiplomacia e de cooperação internacional e, consequentemente, não compreendem que esses recursos também trazem desenvolvimento local e impacto social. Temos a dificuldade em fazer os órgãos de controle, como o tribunal de contas e a procuradoria geral, entenderem o que é a paradiplomacia. Porém, é uma dificuldade que conseguimos superar, não bloqueia a nossa ação.
O que eu sinto da própria interação com outros gestores internacionais é que acabamos dando mais importância à atração de investimento porque a gente não tem dificuldades para atrair uma empresa. É mais fácil, por exemplo, em termos de liberdade dentro da Constituição para conseguir atrair as empresas. Por conta disso, há um pouco de “escanteio” em relação à cooperação. Mas existem formas de a gente fazer cooperação, seja por um instrumento legal, seja por ações poucas, como por exemplo, com embaixadas e consulados já realizamos a capacitação de professores de inglês. O consulado britânico mesmo veio para realizar a formação de 180 professores da rede pública por meio de uma metodologia de estudo da língua inglesa. Essa é uma forma de cooperar e de se desenvolver que não necessita da verificação dos recursos envolvidos por parte dos órgãos de controle. Eu acredito que os gestores precisam ter um olhar mais sensível para a cooperação como um instrumento para o desenvolvimento. Até mesmo nós, profissionais de Relações Internacionais, devemos entender que as relações internacionais são para isso mesmo. Somos profissionais de RI não apenas para cumprir o sonho de viajar pelo mundo, mas para transformar vidas. É através dos conhecimentos e dos instrumentos que nós temos para buscar lá fora os recursos que possam investir no nosso estado e nas nossas comunidades locais e contribuir para desenvolvê-los. Esse é o grande objetivo da vida de um profissional de RI, é melhorar a vida da sua população. Não faz muito sentido para quem vai seguir carreira diplomática ou ficar como um profissional de RI dentro de uma estrutura administrativa do Estado e pensar só na posição do investimento, porque não estará transformando nada. Se pensar só nisso você só estará ali alimentando o ciclo capitalista. Você vai atrair o investimento, gerar receita, gerar produtos para exportar e importar, empregos, mas de forma endógena, como é que você transforma isso? É através da cooperação, da transferência de tecnologia, da informação e conhecimento, da participação em projetos sociais. A gente consegue isso através da cooperação com outros entes, de organismos e agências internacionais.
Então, o que eu diria para os gestores, primeiro, é identificar quais são as potencialidades do seu estado ou município e quais são as necessidades dele. O que você tem para oferecer e o que você tem de carência. A partir daí, você consegue identificar quais são os parceiros internacionais que vão conseguir te suprir isso. No momento que faz o balanço dos problemas e identifica as potencialidades, você consegue conectar o seu potencial que pode suprir sua carência através de parcerias internacionais, sejam elas pela ABC, que aí podem ser por meio de projetos, seja através da cooperação bilateral, da cooperação multilateral com as agências e organismos internacionais. Hoje o NEOJIBA é totalmente independente da ABC de modo que eu consigo fazer ações de cooperação somente com a orquestra. Conseguimos fazer a formação de jovens, enviar um menino da capital baiana para a Europa, trazer um maestro alemão para trabalhar com esses meninos e, assim, conseguimos ir capacitando essas crianças para o mercado de trabalho e para formar outras crianças e outros jovens no futuro. Então, é o que eu sempre falo, é identificar um lado e outro para a gente poder limpar e buscar essa oportunidade. A cooperação precisa ser entendida como um meio para o desenvolvimento local, não só a questão de investimento, pois além de aumentar o PIB e oferecer um número maior de empregos, ela consegue agir dentro do programa social, como um paliativo, mas principalmente como fator de transformação social. Então, eu diria para os gestores para “tirar” um pouco a parte dos negócios, o business, e voltar a focar um pouco mais para o social, entender de que a cooperação pode contribuir para beneficiar essa parcela da sociedade que está em vulnerabilidade, como os refugiados. Existe um número imenso de gente que temos como transformar e ajudar através da paradiplomacia, com toda a certeza.
Nós, profissionais de RI, estamos aqui para aprender e também é nosso papel compartilhar a nossa experiência, sobretudo da Bahia. O protagonismo internacional que temos precisa ser mostrado mundialmente para a gente conseguir realizar uma transformação social. Eu acho que o grande objetivo, seja lá onde o internacionalista estiver, é conseguir melhorar e transformar vidas. Não adianta a gente estar viajando o mundo ou impressionar com a cooperação internacional sem saber o preço disso. O objetivo real é fazer a transformação social e trazer desenvolvimento ao nosso estado e às nossas comunidades. Não apenas para a questão da cultura e também não é só trazer empresas, mas transformar vidas, acabar com a fome no estado, e empregar as pessoas a partir de formação profissional e de capacitação. Esse é o grande objetivo.