Equipe do João Pessoa Criativa fala sobre economia criativa e políticas públicas de fomento ao desenvolvimento

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Marina Ribeiro Barboza Gaudêncio é Assessora Especial de Assuntos Internacionais da Prefeitura de João Pessoa. Nascida em Campina Grande – PB, possui Graduação em Relações Internacionais – Universidade Estadual da Paraíba (UEPB); Graduação em Direito – Instituto de Educação Superior da Paraíba (IESP); Pós-Graduação em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UNB); Mestrado em Relações Internacionais – Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Nos últimos anos, teve atuação destacada no sistema ONU – Nações Unidas. Especialmente no cargo de funcionária oficial no Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e como consultora no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).Trabalhou por dois anos na presidência do Senado Federal. Atualmente, a convite do Exmo Sr Prefeito Cícero Lucena, é chefe do escritório de assuntos internacionais da Prefeitura de João Pessoa – PB. Também é membro do Núcleo de Estudos para Deslocados Ambientais – NEPDA/PB (João Pessoa – Brasil); Artigo publicado na Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana (REMHU); Idiomas: português, espanhol, inglês e francês.
Eduardo Barroso Neto é Consultor da PMJP e do SEBRAE-PB. Graduado em em Design Industrial / Escola de Design da UEMG / 1978. Mestre em Design Urbano / Escola de Design de Lausanne – Suíça, 1981. Fez especialização em Gestão do Design – Domus Academia – Milão Itália – 1992. Foi designer do CETEC – Centro Tecnológico de Minas Gerais (73 a 79). Coordenador do Programa de Design do CNPq em Brasília (82 a 86). Diretor do LBDI em Florianópolis (87 a 97). Diretor do ICSID, hoje Conselho Mundial de Design (93 a 97). Diretor do Centro de Design do Ceará em Fortaleza (97 a 2001). Consultor do Sistema SEBRAE desde 2009. Coordenador do Laboratório de Inovação Cultural em João Pessoa (desde 2018). Consultor da UNESCO em temas de artesanato e design.
Experiência Docente: Responsável pela criação do curso de Design da UNISUL em Santa Catarina (Professor e conferencista convidado em mais de 50 universidades de 23 países (África do Sul, Alemanha, Argentina, Bélgica, Bolívia, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Sul, Cuba, Espanha, França, Itália, Japão, México, Peru, Suécia, Suíça, Taiwan, Uruguai, Venezuela). Principais Publicações: Estratégia de Design para Países Periférico (CNPq – 1981). Demanda de Design no Nordeste do Brasil (SENAI – 1998). Memória do Artesanato Brasileiro (SEBRAE – 2001). Iconografia do Paraná (SEBRAE – 2002). Iconografia do Maranhão (SEBRAE – 2002). Saberes e Sabores do Maranhão (Gov, Maranhão – 2004) Iconografia Potiguar (SEBRAE 2002).Parintins – Duas faces da mesma moeda ( Instituto do Amanhã – 2008). Cartilha das Artesãs (Talentos do Brasil 2010). Cartilha do Artesanato Competitivo (SEBRAE – 2014). Saberes e Sabores de Puebla (Gov. Puebla -2015).
Marianne Goés Gaudêncio é diretora de Economia Criativa de João Pessoa. Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, Direito e Design de Interiores pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ), tem especialização em Gestão Estratégica do Varejo e de Serviços pelo PROVAR – Programa de Administração de Varejo  da USP. Desenvolveu as funções de Gerente de Contas e Assessora de Comunicação da AM Oficina de Propaganda, de 2002 a 2004, saindo para assumir a Gerência de Marketing da Câmara de Dirigentes Lojistas de João Pessoa (CDL-JP), onde permaneceu até 2008, ano em que passa a integrar a equipe da Criare Comunicação, na função de Diretora de Atendimento. Em 2011, assume a Direção Geral do Complexo Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, inaugurando no ano seguinte a Estação das Artes, iniciando uma vasta programação de eventos e exposições nacionais e internacionais, a exemplo de Natureza Extrema de Frans Krajcberg;  Burle Marx: A Figura Humana na Obra em Desenho;  Margaret Mee – 100 anos de Vida e Obra; O Egito sob o Olhar de Napoleão do Itaú Cultural; dentre outras. Coordena desde 2019 o Programa João Pessoa Cidade Criativa, integrando a Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, onde João Pessoa é a única cidade brasileira no segmento artesanato e arte popular. Em 2021, assume a Diretoria de Economia Criativa da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de João Pessoa, com o objetivo de desenvolver uma política pública de EC no município.

IDEF: A Rede de Cidades Criativas da UNESCO foi criada em 2004, com o objetivo de promover a cooperação entre as cidades que reconhecem a criatividade como um fator importante para o seu desenvolvimento. A inserção do município pessoense foi influenciado ou estimulado por outras experiências? Qual o papel da UNESCO para difundir e apoiar a adesão dos municípios?

Marianne Goés: Eu gostaria de começar pedindo que Eduardo respondesse à segunda parte da pergunta, em relação à UNESCO, pois acredito que ele tem muito mais experiência, inclusive como consultor da própria UNESCO. Em relação à João Pessoa, em 2017 entramos na rede. Eduardo Barroso – consultor que já tinha colocado outras cidades na rede – foi convidado na época, pelo município, através do SEBRAE Paraíba, para que pudesse fazer o dossiê de candidatura de João Pessoa. Então claro que fomos estimulados por experiências de outras cidades que estavam na rede. Eduardo foi uma pessoa crucial nesse processo, por sua experiência com outras cidades no Brasil e também outras localidades da Rede na América Latina. Em nossa primeira reunião, durante a gestão Cartaxo, na Estação Cabo Branco, ele apresentou o projeto e o dossiê de candidatura para todos os secretários. A partir de então começou o processo, por intermédio do SEBRAE, e as reuniões começaram a acontecer com várias áreas da cadeia produtiva da cidade de João Pessoa, assim como órgãos e entidades, que necessariamente precisavam fazer parte daquele momento. Então, tudo começou com essa vontade de João Pessoa entrar na rede, e o segmento de artesanato foi escolhido por na época se entender que o artesanato precisava ser mais desenvolvido para esse protagonismo na cidade. Tinha-se uma perspectiva de desenvolver e fortalecer esse segmento no município, e claro, sempre buscando a transversalidade, pois a ideia é o compartilhamento não apenas de práticas, mas também de segmentos criativos. O  artesanato veio atrelado  ao design e a outros segmentos que nós estamos trabalhando ao longo desses anos. Desde 2017 estamos realizando esse trabalho em conjunto, com projetos muito interessantes que eu acredito que ainda teremos a oportunidade de compartilhar com vocês ao longo da entrevista. Marina também chegou para somar ao grupo de trabalho. Então, para finalizar, fomos influenciados sim por outras cidades, e destacamos também a participação ativa do SEBRAE nesse processo, fazendo essa ação junto a Eduardo como consultor da UNESCO.

Eduardo Barroso: Então, com relação à segunda parte da pergunta, o que a UNESCO faz pelas cidades, o que a UNESCO pode fazer pela gente, eu queria começar parafraseando uma frase do Kennedy “não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país”. A mesma coisa podemos nos perguntar, não o que a UNESCO pode fazer por João Pessoa, mas o quê João Pessoa pode fazer pela UNESCO. A UNESCO é o braço das Nações Unidas que cuida da educação, ciência e cultura. Então o intuito dela é promover esses três segmentos nos países que fazem parte da Carta das Nações Unidas. No entanto, se percebeu com o passar dos anos que a cooperação técnica, que é o instrumento mais eficaz para o intercâmbio de ideias e projetos, esbarrou muitas vezes em problemas ideológicos. Por exemplo, países que tinham uma posição ideológica diferente do outro tinham essa cooperação técnica complicada. E quando você desce ao nível das cidades, e não mais dos Estados, então são indivíduos que passam a ser interlocutores. Com isso, facilita muito mais a cooperação técnica. Então nós estamos dentro dessa rede de cidades, que engloba 296 cidades dos 5 continentes que pertencem a países com todas as suas posições ideológicas diferentes. E, apesar disso, a cooperação se dá entre as cidades. Nos encontros anuais que a UNESCO promove, cada cidade leva sua experiência, seus projetos para serem compartilhados. É essa a razão de ser dessa rede.

Identidade visual de João Pessoa como Cidade Criativa. (Foto: divulgação/PMP)

Marina Gaudêncio: Eu estou no meu segundo ano como Ponto Focal aqui na Prefeitura de João Pessoa, e nós temos desenvolvido muitas atividades aqui. Marianne e Eduardo são experts nessa área e eu faço mais a área internacional. Estive em Santos para a XIV Conferência Anual da Rede de Cidades Criativas da UNESCO (UCCN) e foi realmente algo bem diferente, tivemos a oportunidade de compartilhar conhecimento, realizar networking, novas ideias. João Pessoa entrou como cluster da área de Artesanato aqui na América Latina, então isso é algo muito positivo para a cidade.

Marianne Goés: Sobre o dossiê para participação, é necessário apresentar o que a cidade fez nos últimos 5 anos, dentro do segmento que ela está se candidatando, e principalmente o que ela propõe para os próximos 5 anos. E a cada 4 anos a cidade precisa chancelar a sua permanência na Rede, fazendo um novo documento que comprove o que foi feito naquele período inicial de ingresso na rede, se cumpriu com as promessas que estavam no Dossiê, se não cumpriu justificar o porquê e propor mais 4 anos para frente. Então, de 4 em 4 anos, a partir do momento que se entra na Rede, se precisa fazer um novo relatório e propor novos projetos. Portanto é uma atividade bem dinâmica, é difícil inclusive de conseguir ingressar na rede, porque a cada 2 anos esse edital é lançado para que as cidades se candidatem. Para se ter uma ideia, no Brasil são 12 as cidades que integram a rede, e no segmento de artesanato apenas a cidade de João Pessoa. Então nós ficamos muito felizes de poder fazer parte de uma Rede como essa e reconhecemos que precisamos aproveitar as oportunidades que nós conseguimos estando em uma Rede no meio de tantas cidades, 296 para ser mais precisa, de tantos segmentos criativos que podem realmente vir a compartilhar com a gente suas ideias.  É um processo árduo, que exigiu um trabalho muito focado em investimentos por parte do SEBRAE, da Prefeitura, a experiência de Eduardo Barroso como Consultor. Portanto é um processo realmente bem amplo e vamos dizer, intenso.

IDEF: De que forma os incentivos à economia criativa, por meio da valorização de João Pessoa como cidade criativa de artesanato e arte, estão impactando a realidade local dos pessoenses, principalmente dos artesãos e artistas paraibanos?

Marianne Goés: Isso na verdade é bem recente, aqui em João Pessoa ainda mais. Nós entramos na Rede de Cidades Criativas da UNESCO, mas eu acredito que antes da nossa entrada as pessoas não entendiam muito bem o que significava estar participando de uma Rede como essa. Havia muita confusão em relação a isso, tanto é que a economia criativa só foi colocada no organograma do município ano retrasado, com a criação da Diretoria Criativa dentro da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Município. Estamos tentando implementar alguns projetos importantes, como a Fábrica Social do Artesanato, que Eduardo vai poder falar um pouco melhor. Temos também o projeto muito importante que teremos de tirar do papel, estamos conversando já há algum tempo com várias secretarias do município, que é a implementação de um Distrito Criativo. Então acho que nós vamos começar a ver efetivamente os benefícios de João Pessoa integrar a rede daqui há mais um tempo, vamos dizer, de resultados mais concretos. Mas é um trabalho de “formiguinha” incansável, e nós estamos implementando novas e mais amplas ações. Para mim um marco muito importante foi a formalização dessa economia criativa ano retrasado, que deu condições da gente retornar, já agora na gestão do Prefeito Cícero Lucena, e começar a implementar de fato as ações que nós temos  como um sonho, desde a candidatura. Conseguimos algumas, como o LABIN – , Laboratório de Inovação Cultural; o Celeiro, que é um espaço de vitrine e expoente da produção artesanal da cidade; o Museu do Artesanato, que é vinculado ao governo do estado, mas que é um ganho para todo mundo, pois está localizado na cidade de João Pessoa e isso conta muito para o nosso segmento. Estamos colhendo resultados, claro, precisamos focar e ampliar, mas já é um grande avanço para o que nós tínhamos. Até alguns anos atrás apenas tínhamos o selo, e agora já temos essa formalização, o que foi um passo muito importante.

Celeiro Espaço Criativo. (Foto: divulgação/PMJP)

Eduardo Barroso: Basicamente, a realidade do artesanato em João Pessoa e, por extensão, na Paraíba,  não é tão emblemática como a gente imagina, pois tem uma produção ainda incipiente comparada com a de outros estados da federação. Se você comparar o artesanato da Paraíba com o do Ceará ou com o de Pernambuco, existe uma diferença muito grande, isso porque o artesão, em princípio, é uma pessoa muito individualista, trabalha sozinho e não tem muito apego a questões associativas. Então é muito difícil de trabalhar grupos artesanais, esses grupos na verdade são pessoas dispersas no território. Portanto, a primeira coisa que nós tentamos fazer foi identificar essa oferta e a demanda artesanal da Paraíba. Isso se fez através de pesquisas nos salões que são organizados em janeiro em João Pessoa e em junho em Campina Grande. Essa terceira pesquisa que a gente fez começou ano passado, e com esses dados nós conseguimos ter uma visão muito mais clara das necessidades, aspirações e anseios dos artesãos. E com isso facilita a proposição de uma política mais assertiva, traduzida em alguns pontos: primeiro, da melhoria da produção. Você trazer especialistas, designers que possam ajudar os artesãos a criar novos produtos e direcionar o mercado mais demandante deste produto, fugindo um pouco desse consumo de souvenir que agrega muito pouco valor e traz muito pouco recursos econômicos. Então são produtos mais sofisticados, dirigidos a um público-consumidor de maior poder aquisitivo, de maior profundidade cultural, que valoriza as coisas da terra e valoriza o seu artesanato. E ao mesmo tempo, também concursos para que possam trazer experiências de melhoria, por exemplo, da precificação, questões de presença no comércio virtual. Enfim, são novas portas que se abrem e através do programa essas informações são repassadas por meio dos cursos que são dados aos artesãos. Para isso, a nossa ideia é trabalhar o tripé da inovação, que consiste em você ter um grupo que cria, um grupo que produz e um espaço de comercialização. O espaço de comercialização existe, é o Celeiro, o principal equipamento que a Prefeitura criou. Dentro dessa perspectiva, existe o Laboratório de Inovação, que embora não exista de Direito, existe de fato. É ele que responde por todas essas ações. E agora provavelmente vai ter um espaço personalizado, um equipamento que está sendo criado pelo Estado, que é o Centro de Referência do Artesanato Paraibano (CRAP). E, por último, a Fábrica Social de Artesanato, tentando introduzir na cidade novas produções  artesanais que hoje são demandadas mas não tem quem as responda. Sobretudo, cerâmica utilitária, objetos de marchetaria e produtos feitos através da serigrafia, mas referenciados com a cultura local. Então essa é mais ou menos a dinâmica que está sendo proposta. O resultado disso não se mede da noite para o dia. A gente mede isso com a lente do tempo e da distância. Mas já percebemos que existe, da parte de alguns artesãos, que começaram a se envolver nessa dinâmica, um incremento substancial da sua produção. 

Marianne Goés: De maneira mais geral, esse é o critério que nós estamos tentando desenvolver. Então temos hoje esse equipamento, que é o Celeiro e a Fábrica Social, cuja ideia seria produzir uma escola técnica para ensinar jovens aprendizes o ofício, de trabalhar a cerâmica, a marchetaria, como ele falou. Nesse sentido, a cooperação com outras cidades da Rede é muito importante. Por exemplo, cidades da Colômbia são muito fortes na marchetaria. Em Portugal, nós temos Barcellos, que é muito forte na cerâmica. Então são cidades que fazem parte da Rede e que nós temos vontade de trazer inclusive para trocar essa experiência. Com relação ao Distrito Criativo, nós já tivemos videoconferências com Buenos Aires, por exemplo, que tem uma experiência incrível com Distrito Criativo. Também tivemos um contato recente com Porto Alegre que também está implantando um Distrito Criativo no Brasil, apesar de não ser cidade da Rede, quando estamos inseridos nesse contexto ficamos com maior visibilidade em relação a esses contatos e essas facilidades quando precisamos buscar informações com outras cidades. Então é isso, eu concordo com Eduardo quando a gente diz que é um trabalho de “formiguinha” porque a gente não colhe tudo de imediato. Mas esse é o grande prazer e é isso que nos estimula, fazer sempre mais e melhor, pois nós estamos vendo que algumas etapas estão conseguindo ser ultrapassadas e nós realmente estamos implementando, de fato, uma política pública para a economia criativa e focada com mais carinho para o próprio artesanato, visto sermos cidade criativa do artesanato da UNESCO. 

IDEF: Ações como a criação do Celeiro Espaço Criativo de João Pessoa em 2018, que rendeu à capital paraibana o título de “Cidade Criativa da UNESCO”, são importantes fomentos à economia local por meio da economia criativa. Você pode comentar como essas ações foram planejadas e qual a relevância para João Pessoa receber o selo de Cidade Criativa?

Marianne Goés: Como eu disse, na verdade tudo começa com o Dossiê. Então na época houve uma imersão nas informações do que a cidade tinha feito nesse sentido do artesanato, e nós começamos a pensar nos projetos do futuro. Então quando a gente sentou para imaginar quais seriam esses projetos, nós começamos meio que a desenhar esse tripé que Eduardo citou, que seria interessante se houvesse um lugar para se pensar em projetos, que é o LABIN, o laboratório de inovação; um espaço para se produzir, que seria a Fábrica Social; e um espaço para se escoar esse produto, que seria o Celeiro. Então a ideia era que isso tudo caminhasse paralelamente, mas a oportunidade inicial se deu de instalar o Celeiro Espaço Criativo. Na época era um prédio que iria ser demolido mas acabou casando bem, pois era uma promessa do Dossiê de Candidatura, quando o selo saiu em 2017. Então aproveitamos o espaço existente, foram feitas algumas adaptações. Hoje, o Celeiro hoje possui uma Direção, uma curadoria, e é vinculado à Secretaria de Educação do município. Hoje nós ocupamos uma sala lá, trabalhando com essa parte do Laboratório, que, como Eduardo citou, fomos convidados a levar esse Laboratório ao Centro de Referência do Artesanato Paraibano, que será inaugurado em breve, uma parceria do governo com a prefeitura. Isso é algo muito importante [somar forças], pois o estado tem um trabalho muito interessante nesse processo. Inclusive a pesquisa que Eduardo citou no início de sua fala, foi uma iniciativa em conjunto. Tivemos acesso ao espaço do Salão, esse ano inclusive com mais de 500 expositores.

Marina Gaudêncio: O Salão do Artesanato Paraibano 2023, que destacou a arte indígena, levantou mais de 1 milhão para João Pessoa, então foi muito bom. Tem sido realmente um diferencial para a cidade. Inclusive, quando eu vou conversar sobre as ações internacionais de João Pessoa, sempre coloco em pauta essa parte, que nós somos Cidades Criativas, que João Pessoa faz um intercâmbio muito bom com cidades em Portugal, na Europa, outras nos Estados Unidos, África e na Índia. Então é muito bom colocar João Pessoa no  nível internacional nessa área das Cidades Criativas. Portanto, essa participação só veio a somar. 

Marianne Goés: Além disso, se eu tivesse que dizer um projeto que nós queremos muito priorizar esse ano, com certeza seria a Fábrica Social do Artesanato, e então fechamos esses três equipamentos mencionados. 

IDEF: Por fim, temos visto que a economia criativa de João Pessoa tem sido pauta no Brasil, mas também internacionalmente, em conferências e eventos organizados pela UCCN para que as cidades criativas possam compartilhar experiências e discutir cooperações. Para você, como a Rede tem colaborado para a formação de políticas públicas no município de João Pessoa? Você acredita que a troca de experiências com outras localidades criativas têm um impacto positivo na formação de uma estratégia de desenvolvimento local?

Marina Gaudêncio: Um breve resumo do que nós já havíamos discutido, justamente desse impacto que coloca João Pessoa, não só na área nacional, mas internacionalmente conhecida como Cidade Criativa. Várias cidades enxergam João Pessoa como um espelho de ações, justamente porque desde o começo, desde quando entrou na Rede, a cidade teve várias iniciativas, diferentemente de outras cidades que deixaram isso um pouco de lado. Ano passado, eu e Eduardo fomos à Conferência de Santos, e foi realmente um sucesso porque a gente pôde conhecer outros países da Rede. Eu apresentei a cidade e nós ficamos com esse compromisso de colocar João Pessoa a frente do sub-Cluster e também formular essas políticas públicas para o município de João Pessoa. Sobre as experiências com as outras cidades, a reunião que tivemos com Buenos Aires e com a cidade de Barcelos, por exemplo, são muito importantes para que nós possamos fomentar ainda mais essa área internacional e para que João Pessoa não fique apenas dentro do nacional. No Brasil, nós temos 12 cidades que participam da Rede, e as outras cidades do mundo também fazem parte disso.

A 14ª Conferência das Cidades Criativas da Unesco aconteceu em Santos (2022)

Marianne Goés: Eu acho que João Pessoa, mesmo com toda essa dificuldade que nós tivemos de formalizar a Economia Criativa, está desenvolvendo projetos estruturantes – como mencionei, a Fábrica Social que é o nosso objetivo para 2023 –  e caminhando para entregar o que prometemos no Dossiê. Como Marina falou, nós nunca nos acomodamos. Então se a gente não conseguir entregar um projeto estruturante naquele período idealizado, nós apresentamos outra ação. Por exemplo, João Pessoa teve o pioneirismo de criar o “É Criativa”, sediando o Encontro das Cidades Criativas em 2018. Isso foi praticamente menos de 1 ano depois da entrada da cidade na Rede. Mesmo na época da pandemia, a cidade criou uma série de lives e encontros com cidades que pudessem compartilhar suas práticas e que agregassem ao nosso segmento. Então fizemos encontros artesanato com design, artesanato com gastronomia, artesanato com artes midiáticas, etc. Também fizemos, inclusive, um prêmio à época, que foi uma coisa incrível, uma ideia de Eduardo. Em uma época em que as pessoas estavam ociosas em casa, ávidos por produzir – principalmente quem trabalha com artesanato -, foi criado um prêmio para que as pessoas, de várias áreas criativas, pudessem se inscrever virtualmente, colocar o que produziram naquele período de ociosidade. Nesse sentido, pegamos as 7 áreas da economia criativa, conforme classificação da UNESCO (além disso, o nome do prêmio era “criativos”). As pessoas se inscreveram nas 7 áreas, desde o cinema, artes midiáticas, artesanato, gastronomia, design, etc. E isso entrou na publicação oficial da UNESCO, daquele ano (2020). Então nós fizemos parte de uma publicação mundial da UNESCO. Do Brasil, só duas cidades entraram nessa publicação, João Pessoa e Curitiba. Resumindo, a gente nunca se acomodou e acredito que o diferencial seja essa resiliência, essa vontade de aguçar o sentimento de pertencimento, de força, identidade e matriz cultural que nós temos riquíssima na nossa região. Isso trouxe para nós uma repercussão, pelo menos no nível Brasil, eu escuto muito que João Pessoa é uma cidade que sempre está trazendo novidades e se movimentando, independentemente dos intemperes que aparecem no meio do caminho. Recentemente, nós recebemos um convite de uma cidade de Portugal, Castelo Branco, que está querendo se candidatar esse ano ao Dossiê da UNESCO. Sabendo da experiência exitosa de João Pessoa, nos procuraram pois queriam saber como foi, realizar uma troca de experiência. Portanto, é muito legal que nós sejamos uma cidade referência para o artesanato, quando existem outras, dezenas, pelo mundo afora. Eu fiquei muito feliz de receber esse convite, porque realmente mesmo diante de todas as dificuldades nós conseguimos realizar projetos do dia-a-dia, que mesmo pequenos, são importantes e precisam ser implementados pois eles agregam e fazem com que a gente possa implementar também os projetos estruturantes. Além disso, esse sucesso também é fruto dessa capacidade da cidade fazer conexões, porque eu acho que a grande questão da Rede é esse compartilhamento. Às vezes você não tem o recurso financeiro para executar determinado projeto, mas você tem o parceiro, você tem “onde bater na porta” para entender melhor determinadas questões, você tem essa Rede a sua disposição. Portanto é muito deste reflexo, pois somos um grupo de pessoas que realmente pensam a economia criativa e o artesanato, sonham em ver isso cada dia mais forte e de realmente implementar uma política pública de economia criativa na cidade. 

Eduardo Barroso: Dentro da sua pergunta há uma frase muito clara “Para você, como a Rede tem colaborado para a formação de políticas públicas no município de João Pessoa?”. Ou seja, o que a Rede tem feito? Basicamente, a Rede tem orientado as cidades no que deveria ser essa política pública. Isso foi traduzido em um documento chamado “Manifesto das Cidades Criativas da UNESCO no Brasil” que foi elaborado por nós, junto com Fortaleza, e no início de 2020 ratificado, complementado e detalhado em Santos. Tudo isso deu origem à famosa “Carta de Santos”, que é o conjunto de sugestões para implementação de uma política pública nos municípios. Isso é muito importante, pois faz com que todas as cidades tenham uma certa coerência de princípios e atividades. Essa, por exemplo, é uma clara e precisa demonstração de como a Rede pode influenciar uma política pública local. 

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