A Associação Internacional para Recursos Hídricos é uma organização não-governamental e sem fins lucrativos que propõe estratégias globais entre ciência e política para promover a melhor gestão de recursos hídricos. O trabalho executado pela IWRA (sigla em inglês), tem como objetivos estabelecer a colaboração entre áreas interdisciplinares em temáticas voltadas para a água, a partir do estabelecimento de fóruns, comitês, programas e um canal de publicações científicas. Diante disso, um dos projetos desenvolvidos pela organização é o Smart Water Cities, que possui uma frente de atuação voltada para estudos de caso e outra frente focada em tecnologias hídricas em cidades.
O Smart Water Cities possui três objetivos principais: identificar e examinar soluções tecnológicas e suas capacidades de implementação; definir padrões globais de análise de desempenho na gestão da água para comparar soluções entre cidades e desenvolver uma certificação reconhecida internacionalmente para as Smart Water Cities. O projeto, de três anos, conta com três fases de implementação, sendo a primeira fase dedicada a identificar as cidades participantes do projeto. Foram analisados os casos de Nova York (USA), Ciudad Juarez (México), Heredia (Costa Rica), Algarrobo (Espanha), Nakuru (Kenya), Mumbai (India), Ningbo (China), Hong Kong (China) e Busan Eco Delta City (Coréia), prezando pela diversidade de áreas regionais participantes.
Para além de identificar as cidades participantes, o projeto qualifica as principais características de uma Smart Water City, quais as similaridades entre os casos estudados e seus desafios locais. Nesse aspecto, uma das principais justificativas do projeto inclui o protagonismo das cidades nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que, diante das tentativas de sanar problemas locais, acabam encontrando alternativas globais de gestão hídrica. Os objetivos 6 e 11 são dedicados, respectivamente, à água, saneamento e redução do impacto ambiental das cidades, sendo aspectos compartilhados em acordos sobre mudança climática, como o Acordo de Paris.
A segunda fase do projeto visava compreender quais são os padrões e indicadores de uma gestão eficiente da água. Dessa forma, buscava-se elementos que resultassem em um método de avaliação para certificar as cidades inteligentes e definisse parâmetros para outras cidades serem capazes de replicar. Os padrões estudados exploram as contribuições do setor privado, de organizações não-governamentais e da academia, passando por categorias e classificações que determinavam um Smart Water Cities.
A IWRA encontrou dois pontos cruciais ao comparar as contribuições de cada setor. O primeiro ponto, relacionado aos padrões focados na realidade da gestão hídrica urbana, que não considerava fatores como risco de desastres ou o funcionamento de ecossistemas fora das cidades, considerando a situação das cidades um caso isolado de fatores não-urbanos. O segundo ponto destacava a desatenção aos mecanismos tecnológicos de gestão hídrica como potencial indicador de gestão hídrica.
Por fim, a terceira fase do projeto inclui o projeto piloto de certificação e esquemas de diretrizes para soluções locais. Nesse sentido, algumas lições foram compreendidas a partir da conclusão do projeto, sendo estas:
- Cidades são lugares com dinâmicas econômicas, sociais e ambientais específicas e que devem ser levadas em consideração. Sobretudo se a cidade recebe atenção de agências de desenvolvimento e organizações internacionais;
- Smart Water Cities são cidades sustentáveis, pois uma eficiente gestão da água inclui fatores econômicos e sociais;
- Soluções de cidades inteligentes são produzidas a partir de circunstâncias locais, ou seja, as soluções não necessariamente partirão de recursos financeiros e equipamentos específicos, mas sim da compreensão da realidade local;
- Uma boa governança da água urbana é necessária para ser uma Smart Water City;
- O estabelecimento de um padrão e certificação para Smart Water Cities não é um fim em si mas um meio para tornar recursos hídricos e serviços de gestão mais sustentáveis, inteligentes e melhores.
Em suma, o trabalho realizado pela IWRA explora as ações de cidades inteligentes e aborda especificamente cada experiência para chegar a um modelo de Smart Water City. Para as cidades brasileiras, conhecer o trabalho de organizações como o da associação apresenta a possibilidade de encontrar soluções para problemas sistemáticos com importante potencial de ganho político, social e econômico.
REFERÊNCIAS:
ASSOCIATION, International Water Resources. SMART WATER CITIES: Introduction. 2021. Disponível em: https://www.iwra.org/wp-content/uploads/2022/02/Smart-Water-Cities-report-Intro.pdf. Acesso em: 14 jul. 2024.
ASSOCIATION, International Water Resources. SMART WATER CITIES: Part 1. 2021. Disponível em: https://www.iwra.org/wp-content/uploads/2022/02/Smart-Water-Cities-report-Part-1.pdf. Acesso em: 14 jul. 2024.
ASSOCIATION, International Water Resources. SMART WATER CITIES: Part 2. 2021. Disponível em: https://www.iwra.org/wp-content/uploads/2022/02/Smart-Water-Cities-report-Part-2.pdf. Acesso em: 14 jul. 2024.
ASSOCIATION, International Water Resources. SMART WATER CITIES: Part 3. 2021. Disponível em: https://www.iwra.org/wp-content/uploads/2022/02/Smart-Water-Cities-report-Part-3.pdf. Acesso em: 14 jul. 2024.