Ceará: Secretaria das Relações Internacionais fala sobre transição energética

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O Ceará está se consolidando como um hub global de hidrogênio verde, capitalizando seu vasto potencial  em energias renováveis e sua infraestrutura estratégica no Complexo do Pecém. Com investimentos  bilionários de gigantes como a Fortescue e parcerias com países como Alemanha e Holanda, o estado avança  na produção e exportação desse combustível do futuro, essencial para a descarbonização global. Roseane  Medeiros, secretária das Relações Internacionais do Ceará, é uma das líderes desse projeto. Engenheira civil,  empresária e vice-presidente da FIEC, ela foi fundamental na atração de investimentos, destacando o estado  em fóruns internacionais. Junto a ela, Alberto Antunes, secretário executivo de Atração de Investimentos,  complementa a estratégia com expertise em negociações e políticas de incentivo.

IDeF: Poderiam começar contando um pouco sobre suas trajetórias pessoais e profissionais,  especialmente a inserção de vocês na área de relações internacionais? 

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): Bom, vou começar do começo. Sou  engenheira civil, mestre em engenharia de estruturas, e talvez minha presença nas relações internacionais  hoje seja uma surpresa para vocês. Além da minha formação técnica, sou empresária industrial e atuo como  líder classista. Atualmente, sou vice-presidente da FIEC e faço parte da Federação das Indústrias do Ceará  há muitos anos. Em determinado momento, presidi o Conselho de Relações Internacionais da FIEC, o que  ampliou minha experiência nessa área.

Na verdade, meu primeiro contato com o comércio exterior aconteceu há bastante tempo, já que nossa  empresa, no passado, atuava como exportadora. Mas foi como presidente do Conselho de Relações  Internacionais que comecei a ter uma interação mais próxima com o tema, recebendo embaixadores e  participando de diversas iniciativas voltadas para as relações internacionais. O que realmente me trouxe  até aqui, no entanto, foi o trabalho desenvolvido na Secretaria Executiva da Indústria. O Alberto fazia  parte da nossa equipe na época, e tivemos a enorme satisfação de apresentar o Ceará e seu potencial  para a produção de hidrogênio verde para o mundo. Isso aconteceu em um período desafiador, durante a  pandemia, quando realizamos diversas apresentações e eventos online. Com isso, conseguimos atrair um  grande interesse de empresas internacionais, que passaram a enxergar o Ceará como um polo estratégicoNa  verdade, meu primeiro contato com o comércio exterior aconteceu há bastante tempo, já que nossa  empresa, no passado, atuava como exportadora. Mas foi como presidente do Conselho de Relações  Internacionais que comecei a ter uma interação mais próxima com o tema, recebendo embaixadores e  participando de diversas iniciativas voltadas para as relações internacionais. O que realmente me trouxe  até aqui, no entanto, foi o trabalho desenvolvido na Secretaria Executiva da Indústria. O Alberto fazia  parte da nossa equipe na época, e tivemos a enorme satisfação de apresentar o Ceará e seu potencial  para a produção de hidrogênio verde para o mundo. Isso aconteceu em um período desafiador, durante a  pandemia, quando realizamos diversas apresentações e eventos online. Com isso, conseguimos atrair um  grande interesse de empresas internacionais, que passaram a enxergar o Ceará como um polo estratégico.

Sabemos que, internacionalmente, o Brasil já é pouco conhecido, e o Nordeste, menos ainda. Dentro da  região, estados como Bahia e Pernambuco costumam ter mais visibilidade, mas conseguimos mostrar que o  Ceará tem um grande potencial. Essa visibilidade despertou surpresa e interesse do mercado global.

Quando o governador foi eleito, ele me convidou para assumir a Secretaria de Relações Internacionais,  provavelmente motivado pelo trabalho que realizamos na divulgação do estado. Então, de forma resumida,  esse foi o caminho que me trouxe até aqui.

Alberto Antunes (Secretário Executivo de Atração de Investimentos da Secretaria de Relações  Internacionais do Ceará): Sou engenheiro civil, então faço parte do mesmo grupo da secretária Rosane.  De forma geral, cheguei à Secretaria após um convite da secretária, principalmente pelo trabalho  que desenvolvi na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, onde já atuava na área de atração de  investimentos

Hoje, meu foco está mais voltado para empresas internacionais e para a articulação com instituições  estrangeiras. Um dos projetos de destaque que realizamos na época foi a atração de uma empresa  espanhola, que contribuiu significativamente para esse movimento e para as conexões que fortalecemos ao  longo do tempo.

IDeF: Diante desse contexto, por que o governo do Estado tem investido na transição energética e  priorizado o desenvolvimento de fontes limpas e renováveis? Como surgiu esse interesse e quais fatores  impulsionaram essa iniciativa? 

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): O Ceará começou a pensar na  produção de hidrogênio verde, de certa forma, desde a implantação do Porto do Pecém. Naquela época,  ainda não se falava em transição energética, mas já havia um movimento em direção às energias renováveis.  O estado foi pioneiro tanto na instalação de parques eólicos quanto solares, além do próprio Porto do  Pecém.

Os acontecimentos acabaram conspirando a nosso favor. O Porto do Pecém não é um porto federal,  ele pertence ao Estado do Ceará e, em 2018, foi estabelecida uma parceria estratégica com o Porto de  Rotterdam. Rotterdam, sendo um dos maiores hubs portuários do mundo, trouxe consigo experiência,  estrutura e uma visão global, o que impulsionou ainda mais nosso potencial. Na Europa, os compromissos  com a transição energética já estavam avançados, e os países começaram a buscar formas de importar  energia renovável, devido à limitação de espaço e ao alto custo da terra no continente. Esse cenário abriu  uma grande oportunidade para o Ceará.

Diferente de outros estados do Nordeste, como Bahia e Pernambuco, cuja economia foi historicamente  marcada pela cana-de-açúcar e pela produção de etanol, o Ceará sempre enfrentou grandes desafios de  desenvolvimento. Mais de 80% do nosso território está no semiárido, o que dificultou a colonização e o  crescimento econômico ao longo dos séculos. A escassez hídrica sempre foi uma vulnerabilidade.

Por isso, quando surgiu a possibilidade de investir em energia renovável, a sociedade cearense abraçou  essa oportunidade com determinação. Entendemos que essa era uma das poucas chances de transformar  nossa economia. O Ceará foi pioneiro no mapeamento do potencial eólico e solar, sendo o primeiro estado  a lançar um Atlas Eólico. Esse estudo possibilitou que investidores tivessem informações concretas para  estruturar seus projetos, inclusive no segmento offshore. Outro fator positivo foi a condição natural do  estado para a geração híbrida de energia, combinando sol durante o dia e ventos fortes à noite, garantindo  mais estabilidade ao sistema – isso, inclusive, antes mesmo da regulamentação dos parques híbridos.

Desde o início, o governo estadual apoiou essa agenda. Tanto o então governador Camilo Santana, hoje  ministro, quanto o atual governador Elmano de Freitas, se engajaram nesse projeto, assim como o Porto do Pecém e o setor produtivo. A Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) compreendeu a importância dessa  oportunidade desde o começo e desempenhou um papel fundamental na sua divulgação, mobilizando  empresários e promovendo eventos estratégicos. Além disso, houve uma preocupação com a formação de  mão de obra qualificada. Foram promovidos cursos técnicos e a Universidade Federal participou ativamente,  assinando um memorando de entendimento junto ao governo do estado e à FIEC. Ou seja, houve um  esforço conjunto entre governo e o setor privado, todos acreditando que a transição energética poderia, de  fato, transformar a economiado Ceará. 

IDeF: Diante desse cenário, qual tem sido o papel da cooperação internacional na viabilização dos  investimentos e no avanço da transição energética no estado, especialmente em relação aos fatores que  atraem investidores externos para o Porto do Pecém? 

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): No governo Camilo, surgiu a  necessidade de contratar uma consultoria para desenvolver um roadmap e um plano de negócios para o  Porto do Pecém. Foi nesse contexto que o Porto de Roterdã entrou na equação, eles procuraram a gente,  e nós aproveitamos a oportunidade de estabelecer uma conexão com a expertise de um dos portos mais  ativos do mundo. 

No final das contas, Roterdã foi escolhido para realizar os estudos e, após essa análise, identificaram que  seria um excelente negócio estabelecer uma posição no Ceará. Eles entãopropuseram ao governador Camilo  a compra de uma participação no porto, buscando uma parceria ainda maior. No entanto, o governo não  concordou com a proposta de venda de uma fatia maior, e o acordo foi fechado em 2018. 

Até hoje, não sei se Roterdã já tinha plena consciência do movimento que se desenhava na Europa em  relação à produção de hidrogênio verde ou se foi uma coincidência –embora coincidências desse tipo  raramente aconteçam. É possível que eles já soubessem da crescente vulnerabilidade energética europeia e  da necessidade futura de importação de energia renovável. Muitas vezes, temos informações filtradas pela  mídia, mas nada substitui a experiência de estar imerso em um país e compreender suas reais necessidades  estratégicas

Vale lembrar que, quando as conversas sobre o hidrogênio verde começaram, a guerra entre Rússia e  Ucrânia ainda não havia ocorrido. Sem dúvida, essa guerra desacelerou o processo, pois trouxe desafios  como o enfraquecimento da economia europeia e mudanças de prioridade nos investimentos. Agora, com  a possível volta de Trump ao governo dos EUA, há um novo fator de pressão sobre a Europa, que pode  precisar redirecionar recursos para sua própria defesa, reduzindo o investimento na transição energética. 

Ainda assim, o Porto de Roterdã desempenhou um papel fundamental, principalmente no apoio técnico.  O conhecimento sobre a produção de hidrogênio já existia no Brasil, mas ainda havia muitas dúvidas sobre  como estruturar um roadmap para o hidrogênio verde e sobre quais indústrias poderiam ser atraídas para  o Hub do Hidrogênio Verde. Nesse sentido, Roterdã colaborou fortemente com o Ceará, não apenas com  expertise, mas também na divulgação do nosso potencial em eventos internacionais. Um exemplo disso  são os eventos que ocorrem duas vezes por ano em Roterdã, onde o Porto do Pecém passou a marcar  presença. Isso garantiu uma visibilidade muito maior para o projeto, ajudando a superar um dos nossos  maiores desafios: fazer com que o mundo conheça o que temos aqui. Nesse aspecto, Roterdã foi um grande  facilitador para atrairmos e sermos vistos.

IDeF: Como a presença de empresas atraídas pela Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do  Ceará, aliada à cooperação internacional para o desenvolvimento do hidrogênio verde, tem impactado a população local e o desenvolvimento sustentável do estado, especialmente em termos de geração de  renda, emprego e qualidade de vida?

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): Os investimentos em hidrogênio  verde ainda não são uma realidade concreta. São aportes bilionários em dólar, e esse é um processo que,  inicialmente, acreditávamos que começaria por volta de 2026 ou 2027. No entanto, por conta de diversos  fatores, como o exemplo já citado da guerra entre Rússia e Ucrânia, acreditamos que esse prazo possa  se estender.. Isso impacta principalmente o interior doestado, pois a construção dos parques de energia  renovável depende desse avanço. 

Na operação do Porto, o impacto já é perceptível. O funcionamento do Porto do Pecém e das empresas  instaladas na sua área influencia diretamente a economia da região. Posso falar disso com propriedade, pois  tenho uma casa de praia a cerca de 20 km do Pecém desde 1992 e acompanhei de perto o desenvolvimento  da área. No início dos anos 2000, eu precisava trazer tudo de Fortaleza, pois quase não havia comércio local.  Hoje, há uma rede de serviços muito mais estruturada, com supermercados, construção civil e diversas  outras atividades que mudaram completamente o perfil da região.

Esse crescimento foi impulsionado, em grande parte, pela siderurgia. Quando o Porto do Pecém foi  planejado, duas estratégias principais estavam em pauta: atrair uma siderúrgica e viabilizar a instalação  de uma refinaria. A siderúrgica se concretizou e hoje temos a Arcelor Mittal, cuja produção começou por  volta de 2018. Já a refinaria, por outro lado, nunca saiu do papel, assim como ocorreu no Maranhão, onde a  Petrobras também tinha planos que não avançaram. Mas, atualmente, há uma refinaria em implantação na  região. 
 

Para quem frequenta e conhece a região, a transformação é evidente. Além disso, há uma grande  preocupação em incluir as comunidades locais nesse desenvolvimento. Qualquer grande empreendimento  passa por audiências públicas e um rigoroso processo de licenciamento. Nesse contexto, as empresas  assumem compromissos sociais, como a reforma de escolas e hospitais, além da oferta de treinamentos  para a população. Isso gera um impacto positivo significativo.

Obviamente, ainda temos muito a avançar. Quem tem mais de 30 anos, como eu, lembra da realidade do  Ceará no passado, especialmente no interior. Meu avô tinha uma fazenda no interior, e eu via de perto como  a falta de oportunidades marcava a vida das pessoas. Durante as secas, a população dependia de frentes de  trabalho para conseguir qualquer renda, mesmo que fosse apenas quebrar pedras para justificar algum tipo  de assistência. Hoje, essa realidade mudou muito.

Recentemente, em uma reunião com o prefeito Evandro, ele comentou que, ao visitar o interior do estado,  percebia que a pobreza era mais visível em Fortaleza do que no interior. Esse é um reflexo de várias políticas,  como programas sociais e a expansão da educação. O analfabetismo ainda é um desafio no Nordeste,  mas tem diminuído. E uma pessoa que recebe educação busca se desenvolver e não quer mais depender  exclusivamente de programas sociais – ela quer trabalhar e crescer profissionalmente.

Alberto Antunes (Secretário Executivo de Atração de Investimentos da Secretaria de Relações  Internacionais do Ceará): Além disso, vemos um impacto positivo na educação superior. As universidades  estaduais e federais estão desenvolvendo projetos relevantes, e háum crescente interesse dos alunos em  novas áreas de conhecimento. A qualificação da mão de obra, desde a graduação até a pós-graduação, tem  se expandido. Um exemplo emblemático disso é a chegada do ITA ao Ceará. Esse processo de inovação  culminou na construção de uma unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, cujas obras já estão em  andamento. A previsão é que a primeira turma comece em 2027, com cursos de Engenharia de Sistemas e Engenharia de Energias Renováveis.

Mesmo que os investimentos em hidrogênio verde ainda não tenham se concretizado, os impactos sociais  e educacionais já são visíveis. Além disso, o governo tem investido fortemente na interiorização do ensino  profissionalizante e universitário. As escolas profissionalizantes e os campi da Universidade Estadual  foram ampliados pelo interior do estado. Também houve um esforço na área da saúde, com a instalação  de hospitais de alta complexidade, algo que antes só existia na capital. Hoje, já contamos com diversos  hospitais no interior, o que transforma a realidade dessas regiões. 

Ter hospitais significa ter médicos e professores morando no interior, movimentando a economia local.  O impacto não se resume apenas à arrecadação de ICMS dos investimentos, mas também à geração de  uma cadeia de serviços que se desloca para atender essas novas demandas. Esse é um movimento de  transformação estrutural que fortalece o desenvolvimento do estado. 

IDeF: Quais são as principais potencialidades do Ceará em relação ao Hidrogênio Verde e como esse tema  se tornou uma política estratégica para o Estado, contribuindo para sua internacionalização? 

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): Bom, primeiro, é fundamental  destacar o potencial energético que o Nordeste, de maneira geral, possui, tanto em energia solar quanto  eólica. Essa é a matéria-prima do processo. 

Além disso, a localização geográfica é um fator estratégico. Contamos com um porto que não é federal, mas  de gestão privada, o que proporciona maior flexibilidade e agilidade em comparação com outros portos que  dependem de decisões do Ministério dos Portos. Essa proximidade na gestão facilita processos e torna o  ambiente mais atrativo para investidores.

Outro ponto importante é a governança do estado e a rapidez com que as demandas dos investidores  são atendidas. O Ceará, por exemplo, há mais de 30 anos vem desenvolvendo políticas para garantir  segurança hídrica, o que é um diferencial relevante. Embora muitos projetos contemplem a instalação de  dessalinizadores, o Porto do Pecém já dispõe de uma estrutura hídrica relativamente segura. Isso se deve ao  avanço na interligação das bacias e ao esforço do governo estadual para levar água e saneamento a todos os  municípios. 

Também é essencial destacar a articulação entre o setor público, o setor privado e as universidades.  Essa colaboração fortalece o ambiente de inovação e capacitação profissional, o que é crucial para o  desenvolvimento de projetos ligados às energias renováveis. O estado já possui iniciativas para qualificar  a mão de obra local, o que facilita os investimentos na área. Além disso, a criação da Secretaria das  Relações Internacionais foi um passo estratégico para dar maior visibilidade ao Ceará no cenário global,  especialmente na atração de investimentos para a cadeia produtiva do hidrogênio verde.

IDeF: Considerando os comentários feitos, gostaria de entender de que forma o Porto do Pecém foi  impactado nos últimos anos e qual é o seu papel ou relevância atual dentro das estratégias e políticas do  governo? 

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): Hoje, o Porto do Pecém não é  apenas um porto. A Companhia Industrial e Portuária do Pecém administra tanto o porto quanto uma área  industrial, que é alugada para investidores.

Quem se instala na região do Sítio não é proprietário da área, mas paga um aluguel para a companhia.  Além disso, o Porto do Pecém conta com a única Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em operação  em larga escala no Brasil. Enquanto há várias ZPEs em fase de projeto ou início de implantação, a nossa já  abriga uma empresa do porte da ArcelorMittal, o que a torna um ativo extremamente relevante. Esse fator é  crucial, pois muitos investidores interessados na produção de hidrogênio verde são atraídos pela ZPE. Nossa  estratégia sempre teve um forte foco na exportação, justamente devido às facilidades oferecidas por esse  modelo, permitindo a produção livre da carga tributária brasileira.

No entanto, vivemos um momento de grandes transformações globais nos últimos quatro anos. Caso ocorra  apenas um atraso no avanço dessa cadeia produtiva, mas o processo continue, teremos um grande potencial  de crescimento, pois o mundo busca cada vez mais energia limpa. O grande desafio atual é entender o custo  dessa energia e seu impacto nos preços e na inflação. 

A pandemia de Covid-19 também trouxe desafios significativos, desorganizando cadeias de suprimentos  no mundo todo. Mas, independentemente dessas dificuldades, o Porto do Pecém segue como um ativo  estratégico. Muitos países se desenvolveram por meio da logística, e o Ceará adota essa mesma visão  estratégica, reconhecendo a importância desse setor para o crescimento econômico do estado. 

Além do hidrogênio verde, o Porto do Pecém já tem uma forte atuação na exportação defrutas e de placas  da ArcelorMittal, além da importação de equipamentos para os parques eólicos do Nordeste. Tudo isso  demonstra como estamos aproveitando nossa localização geográfica privilegiada e nossa infraestrutura  portuária para impulsionar o desenvolvimento do estado. Sobre a transição energética, ela segue em  desenvolvimento. O Ceará tem investido na compra de energia no mercado livre, tanto para reduzir custos  quanto para incentivar a implantação de novos projetos eólicos. 

Entretanto, o ritmo desse avanço depende do Sistema Interligado Nacional de Energia, que regula a  distribuição da eletricidade no país. O maior mercado consumidor de energia está no Sudeste, então, apesar  de produzirmos energia no Nordeste, ela precisa ser transportada para essa região. Hoje, um dos grandes  desafios para o Nordeste é a ampliação das linhas de transmissão que levam energia para o Sudeste, uma  responsabilidade do governo federal. A solução dessa questão será essencial para viabilizar o crescimento da  produção e distribuição de energia renovável.

IDeF: Outros governos estaduais ou municipais no Brasil teriam condições de replicar o sucesso do Ceará  na atração de investimentos para o setor de hidrogênio verde? Quais estratégias, benefícios e desafios  eles precisariam considerar ao implementar iniciativas semelhantes? 

Roseane Medeiros (Secretária das Relações Internacionais do Ceará): Todos os estados do Nordeste  possuem um enorme potencial em energia renovável e, teoricamente, poderiam avançar nesse setor. No  entanto, o Ceará tem uma vantagem estratégica com o Porto do Pecém. Outros estados, como Bahia e  Pernambuco, também possuem portos, mas muitas vezes enfrentam limitações em relação à área disponível  para expansão. 

O Piauí, por exemplo, está tentando criar uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em Parnaíba.  Diferente do Ceará, o estado não enfrenta o mesmo problema de vulnerabilidade hídrica, o que facilita o  avanço de projetos na região. Porém, licenciar um porto no Brasil não é uma tarefa simples. O Piauí também  possui uma forte produção agrícola no sul do estado, semelhante ao oeste da Bahia. Essa região, conhecida  como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), tem um grande potencial na produção de grãos, o que  no futuro pode facilitar a viabilização de um porto. Entretanto, esse ainda é um desafio complexo.

A Paraíba conta com o Porto de Cabedelo, mas sua área é limitada. O Rio Grande do Nortetambém possui  um porto, mas de menor porte. Quando se pensa em exportação de hidrogênio verde, o transporte  marítimo se torna um fator crucial. Hoje, a tecnologia prevê a produção de hidrogênio verde, sua conversão  em amônia verde e o transporte para posterior reconversão. No futuro, novas tecnologias poderão permitir  o engarrafamento direto do hidrogênio, mas, para grandes volumes, o transporte marítimo continua sendo a  opção mais viável. 

Outro ponto fundamental para o sucesso do Ceará é a governança. Aqui, existe um forte alinhamento entre  o governo estadual, o setor privado e as universidades. Todos trabalham na mesma direção, garantindo uma  visão unificada sobre a transição energética e o hidrogênio verde. Essa sintonia é essencial para o avanço de  políticas públicas e a concretização dos projetos. 

Os principais desafios enfrentados no desenvolvimento do hidrogênio verde no Ceará envolvem dois pontos  centrais: mercado e custo. 

Atualmente, há um risco considerável relacionado ao custo da produção, pois ainda não se sabe com  exatidão qual será o valor final do hidrogênio verde. Além disso, o mercado, que antes parecia mais  consolidado, passou por mudanças. 

Inicialmente, o foco era a exportação para a Europa, devido à parceria com o Porto de Roterdã e à  localização geográfica estratégica do Ceará. No entanto, a nova dinâmica geopolítica pode alterar  esse cenário. Outras regiões, como Japão e China, são grandes demandantes de energia e podem se  tornar mercados importantes para o hidrogênio verde brasileiro. Essas mudanças na geopolítica global  representam um dos principais desafios que teremos que enfrentar nos próximos anos. 

Alberto Antunes e Silva Oliveira, 

Secretário Executivo de Atração de Investimentos, Recursos Externos e Inteligência

Comercial na Secretaria das Relações Internacionais do Estado do Ceará Engenheiro Civil formado pelo  Centro Universitário Christus (Unichristus), na qual recebeu o Prêmio Cultural Professor Roberto de  Carvalho Rocha de melhor média da turma do curso de Engenharia Civil. Possui Master of Business  Administration (MBA) em Gerenciamento de Obras e Tecnologia da Construção pela Instituto Brasileiro de  Educação Continuada (INBEC), certificada UNIP – Universidade Paulista, e MBA em processo de finalização  sobre Gestão Pública pela Unichristus. Dispõe de qualificações como o Investment Policy and Promotion  pelo Banco Mundial e capacitações em Promoção de Negócios Internacionais pela Escola Nacional de  Administração Pública (ENAP) e Processo Estratégico e Operacional para a Atração de Investimentos  Internacionais nos Estados pela ApexBrasil/IDB. No setor privado, atuou em uma empresa terceirizada de  engenharia auxiliando na elaboração de projetos e obras de engenharia civil e prestação de assistência  administrativas na fábrica da Solar Br – Coca Cola, Unidade Maracanaú/CE. Na parte pública, atuou em  análises orçamentárias no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) especificamente no  Setor de Departamento de Infraestrutura Hídrica. É alumni de Gestão Pública pela Vetor (Motriz) Brasil.  Trabalhou na Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet) como Assessor Técnico  na Coordenadoria de Atração de Empreendimentos Industriais, realizando ações voltadas para prospecção  de potenciais investidores que se interessam em instalar unidades industriais na região do Ceará. Atuou  como Coordenador de Atração de Investimentos na recém-criada Secretaria das Relações Internacionais do  Estado do Ceará e atualmente ocupa o cargo de Secretário Executivo de Atração de Investimentos, Recursos  Externos e Inteligência Comercial na Secretaria.

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