
Entrevista com Hardi Vieira – Oficial do FIDA no Brasil
O FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola) é uma instituição financeira internacional e uma agência especializada das Nações Unidas. O IDeF entrevistou Hardi Vieira, Coordenador do Programa no Brasil e dirigente do escritório do FIDA em Salvador (Brasil). Antes de ingressar no FIDA, trabalhou como Economista especializado em desenvolvimento no Fundo Comum para os Produtos Básicos, com sede em Amsterdã (Países Baixos). Vieira possui um diploma em Gestão Avançada pelo Instituto de Empresa (IE) de Madri (Espanha) e um certificado do Programa de Liderança Ambiental da Universidade da Califórnia (UC), em Berkeley (Estados Unidos). Além disso, tem um mestrado em Economia do Desenvolvimento pela Universidade de Bradford (Reino Unido) e uma licenciatura em Economia Internacional obtida por meio de um programa conjunto entre a Universidade de Brasília (UnB) (Brasil) e a Universidade de Griffith (Austrália).
IDeF: Gostaríamos de saber, primeiramente, sobre a sua trajetória pessoal e profissional, especialmente na relação com sustentabilidade e cooperação internacional.
HARDI: Ah, bem, na verdade, toda a minha carreira tem sido voltada para o desenvolvimento internacional, em diferentes áreas. Atualmente, trabalho no FIDA, na área de desenvolvimento rural. De forma mais específica, comecei minha trajetória ainda no meio acadêmico. Fiz graduação em Relações Internacionais pela UNB, depois realizei um mestrado em Economia do Desenvolvimento na Universidade de Bradford, na Inglaterra. Além disso, fiz uma especialização em Berkeley, nos Estados Unidos, e outra em Gestão para o Desenvolvimento no Instituto de Empresa, em Madri. Iniciei minha carreira profissional como estagiário no PNUD, em Brasília, e, posteriormente, trabalhei fora do Brasil, em uma agência chamada Fundo Comum de Produtos de Base, em Amsterdã, na Holanda. Quando o FIDA abriu seu escritório no Brasil, em Salvador, tive o desafio de estruturar a carteira de projetos da instituição no país. Mais recentemente, em 2018, contribuí também com a abertura do escritório em Brasília, onde estabelecemos o Centro de Cooperação Sul-Sul. Portanto, tenho uma longa trajetória tanto acadêmica quanto profissional no sistema de desenvolvimento internacional.
IDeF: Sobre o Projeto Sertão Vivo, sabemos que é uma iniciativa conjunta do BNDES, do governo Lula e do FIDA. Gostaríamos de saber como tudo começou e qual foi a participação do FIDA nessa parceria e de que forma a instituição contribuiu para o desenvolvimento do projeto.
HARDI: Na realidade, o projeto Sertão Vivo, que recebeu esse nome mais recentemente, logo antes do seu início, tem como título oficial “Semeando Resiliência em Comunidades Rurais do Nordeste do Brasil”, conhecido pela sigla em inglês PCRP (Planting Resilience in Rural Communities of the Northeast of Brazil). Trata-se de uma iniciativa complexa, que levou bastante tempo para ser preparada, aprovada e finalmente implementada, justamente por envolver muitos parceiros e apresentar uma arquitetura institucional bastante sofisticada. A origem do projeto está em conversas entre o FIDA e o Governo Federal, dentro de uma prioridade estratégica do FIDA de trabalhar mais estreitamente com bancos públicos de desenvolvimento. Foi nesse contexto que começou a aproximação com o BNDES. Além disso, o processo exigiu uma série de estudos técnicos e negociações, especialmente por envolver o Fundo Verde para o Clima (GCF), um dos principais co-financiadores da iniciativa. O FIDA fez, então, uma captação de recursos junto ao GCF, que repassa os valores ao FIDA, e este, por sua vez, ao BNDES, por meio de um acordo formal. Esse acordo entre FIDA e BNDES se desdobra em subcontratos com seis estados do Nordeste – Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba, Pernambuco e Sergipe, além de um contrato adicional com uma organização da sociedade civil, a AP1MC, também conhecida como ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), responsável pelas ações de monitoramento, avaliação, aprendizagem e gestão do conhecimento. Por envolver uma operação de crédito internacional, todo o processo foi bastante longo e criterioso. O contrato entre FIDA e BNDES, por exemplo, precisou de aprovação do Congresso Nacional, e os contratos com os estados passaram pela análise e autorização do Tesouro Nacional. Apesar da complexidade, o arranjo é considerado inovador. Ele representa um novo paradigma para o enfrentamento das mudanças climáticas no Nordeste do Brasil, unindo recursos financeiros, conhecimento técnico e parcerias institucionais de maneira inédita. Após várias etapas de aprovação e revisão, o projeto entrou em fase de implementação, mobilizando 212 milhões de dólares, parte de fundos não reembolsáveis e parte de fundos reembolsáveis. Atualmente, participam da iniciativa os seis estados nordestinos já mencionados e a ASA, que possui contratos com o BNDES. O BNDES, por sua vez, mantém o contrato principal com o FIDA, realizando o acompanhamento, a supervisão e o envio de relatórios ao Fundo Verde para o Clima. Esse é o primeiro contrato do FIDA com um banco público de desenvolvimento, um marco importante que o Fundo pretende replicar em outros países. Ele reforça o compromisso histórico do FIDA com o Nordeste e o Semiárido brasileiro, regiões onde a instituição atua há cerca de três décadas. Esse foco se justifica porque o Nordeste é a região mais pobre e vulnerável do país, segundo diversos indicadores, e o FIDA tem como mandato central reduzir a pobreza rural. Dentro do Nordeste, o Semiárido é uma área prioritária, por ser a mais suscetível às mudanças climáticas na América do Sul. Além disso, é uma região com forte presença dos grupos prioritários para o FIDA (mulheres, jovens, povos e comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas) e uma expressiva concentração de agricultores familiares, cuja produção é essencial para a segurança alimentar local. O Semiárido, no entanto, enfrenta grandes desafios, como longos períodos de estiagem e dificuldades de acesso à água. Por isso, o FIDA decidiu concentrar sua atuação nessa região, fortalecendo a resiliência das comunidades rurais e promovendo o desenvolvimento sustentável.
IDeF: Em algumas notícias, foi mencionado que o Projeto Sertão Vivo seria um marco por ser o primeiro financiamento do FIDA com um banco de desenvolvimento, resultado de uma mudança nos estatutos da instituição, que teria sido impulsionado pelo Brasil. Poderia explicar como exatamente o Brasil contribuiu para essa mudança e qual a relevância dela para futuros projetos do FIDA?
Essa pergunta é bastante apropriada, Thaís, porque, justamente no momento em que estávamos preparando o projeto, o arcabouço jurídico do FIDA ainda não estava preparado para firmar contratos com bancos públicos de desenvolvimento, como é o caso do BNDES. Foi necessário, portanto, promover uma mudança no estatuto do FIDA. O Conselho de Governadores, que é a instância máxima de decisão da instituição, precisou aprovar essa alteração para permitir que o FIDA realizasse contratos de financiamento com bancos públicos de desenvolvimento. O projeto, então, motivou e impulsionou essa mudança estatutária, algo que não é simples, requer justificativas detalhadas, documentação técnica, além de longas discussões entre os países membros. Nesse processo, o Brasil teve uma participação bastante relevante, apoiando fortemente essa nova agenda de cooperação com bancos públicos de desenvolvimento. Essa experiência começou com o BNDES, com o apoio do governo brasileiro, e hoje o FIDA está plenamente habilitado para celebrar contratos com bancos públicos, tanto nacionais quanto regionais. Isso abriu uma nova janela de oportunidades para o trabalho do FIDA em diferentes partes do mundo.
Mas a pergunta que surge é: por que fazer isso?
Existem várias razões. A primeira é que os bancos de desenvolvimento são instituições robustas, com grande capacidade operacional e técnica. No caso do Brasil, o BNDES é o segundo maior banco de desenvolvimento do mundo e possui uma estrutura consolidada para implementar políticas públicas de desenvolvimento. Essa parceria, portanto, potencializa a ação do FIDA, e de qualquer organismo internacional, ao unir esforços com uma instituição pública nacional com grande capilaridade e alcance. A segunda razão é que, para o FIDA, trabalhar com o BNDES significa levar a agenda do Semiárido, do Nordeste, da agricultura familiar e do desenvolvimento rural para um espaço de grande relevância institucional. O projeto chama a atenção da alta gestão do banco e amplia a visibilidade dessas pautas. No Brasil, e em muitos outros países, existe, muitas vezes, uma dicotomia entre o agronegócio e a agricultura familiar. O agronegócio está voltado para a grande produção e as exportações de commodities, enquanto o FIDA atua justamente com o pequeno agricultor, o produtor familiar, geralmente em situação de vulnerabilidade, pobreza ou extrema pobreza. Por isso, o papel do FIDA vai além do financiamento. A instituição também atua em diálogo de políticas públicas, buscando influenciar governos e direcionar mais recursos para a agricultura familiar e para grupos vulneráveis. Esse papel se fortaleceu muito no âmbito do BNDES. O próprio banco tem reconhecido a importância e a prioridade do projeto, assim como o FIDA o considera estratégico. Essa colaboração eleva o tema da agricultura familiar no Semiárido nordestino, articulando-o com as agendas de mudança climática, resiliência climática, tecnologias sociais e participação da sociedade civil. É importante destacar que o projeto também representa um esforço interministerial. Sua formulação contou com consultas a diversos ministérios, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o Ministério da Fazenda, que representa o Brasil junto ao FIDA, e o Ministério do Planejamento e Orçamento. Também houve participação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ou seja, trata-se de uma parceria ampla, que envolve diversos atores institucionais e setores da sociedade civil, todos comprometidos com o sucesso e o impacto positivo do projeto.
IDeF: O Projeto Sertão Vivo é multifacetado e conecta temas importantes para o desenvolvimento sustentável, ao buscar aumentar a resiliência das comunidades rurais e reduzir práticas não sustentáveis. Qual tem sido o papel do FIDA na execução do projeto, na priorização das comunidades, e quais são as principais ações previstas?
Essa é uma pergunta importantíssima, Thaís, especialmente para entender a estrutura e o alcance do projeto. Como mencionei, nós temos seis estados participando desse importante programa no Nordeste: Piauí, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Bahia. Esses estados são, de fato, os implementadores diretos das ações, cada um com sua unidade estadual de execução, responsável por coordenar e gerenciar o projeto em nível local. Para que esses estados participassem do programa, foi necessário que enviassem propostas específicas, que passaram por um processo rigoroso de seleção e aprovação pelo BNDES, com critérios técnicos e sociais bem definidos. Entre eles, destacam-se fatores como segurança hídrica, níveis de pobreza, presença de agricultores familiares, participação de povos e comunidades tradicionais, além de aspectos relacionados à segurança alimentar e nutricional. Esses critérios estão detalhados no Manual de Implementação do Projeto, que é público. A partir daí, as áreas prioritárias dentro de cada estado foram selecionadas para execução das ações. Cada estado, por meio de sua unidade de execução, realiza contratos com entidades de assistência técnica e extensão rural, além de associações e organizações de produtores, que recebem os recursos e implementam diretamente as atividades previstas. Podemos dizer que há vários níveis de implementação: o nível estadual, o das entidades de assistência técnica e extensão rural, e o das associações de produtores, que executam o que chamamos de TRIPs — os Planos de Desenvolvimento Territorial. Esses TRIPs são o núcleo central do projeto, pois é neles que as ações acontecem de fato, junto a grupos, associações e organizações de produtores rurais, garantindo o protagonismo local.
Nota da entrevistadora — Thaís de França:
Segundo o manual do projeto disponível no site do BNDES, os critérios de seleção dos territórios participantes consideraram quatro indicadores principais: Incidência de pobreza rural no território; Índice de vulnerabilidade climática e histórico de seca; Índice de segurança alimentar e nutricional da população; Disponibilidade e qualidade da água no território.
IDeF: Historicamente, o Nordeste – especialmente o Sertão – foi invisibilizado e negligenciado em termos de investimentos, o que dificultou o fomento da agricultura sustentável. Ver esse cenário começar a mudar com um projeto que considera as especificidades da região é muito positivo. Diante desse contexto, quais têm sido os principais desafios encontrados durante a implementação?
Bem, você mencionou a importância do protagonismo dos estados, mas eu gostaria de enfatizar, sobretudo, o protagonismo das organizações e dos produtores rurais. O projeto tem todo um sistema estruturado, como comentei, baseado nos TRIPs — os Planos de Desenvolvimento Territorial —, que garantem que o agricultor e a agricultura familiar sejam os verdadeiros protagonistas das ações. A ideia é empoderar essas comunidades, fortalecendo sua capacidade de planejar, executar e sustentar as iniciativas. No fim das contas, o sucesso do projeto depende diretamente da ação, da participação e da apropriação por parte dos agricultores. Desde o início, o projeto foi desenvolvido com uma linha de base sólida, uma avaliação ambiental detalhada e uma avaliação de impacto. Para isso, foram criados questionários e instrumentos de coleta de dados baseados em metodologias estatísticas rigorosas, aproveitando a ampla experiência que o FIDA já possui tanto no Brasil quanto internacionalmente. Esses instrumentos permitirão medir com precisão os impactos do projeto, tanto em termos climáticos quanto em níveis de pobreza e desenvolvimento social. Um dos aspectos mais importantes desse projeto é justamente o fato de dar visibilidade e relevância ao Semiárido brasileiro. Dentro dessa região, está o bioma Caatinga, que é exclusivo do Brasil, não existe em nenhum outro país. A gente observa que, nas discussões sobre clima e meio ambiente, especialmente agora, com a COP30 sendo realizada no Brasil, a Amazônia costuma concentrar a maior parte da atenção, o que é compreensível, dada sua importância. Mas é essencial lembrar que o Brasil possui outros biomas igualmente estratégicos e sensíveis, como a Caatinga, que merece maior reconhecimento e investimento internacional. Queremos, portanto, dar visibilidade à Caatinga, mostrando sua relevância ecológica, social e econômica. Conseguir o apoio do Fundo Verde para o Clima (GCF) foi um passo decisivo nesse sentido, pois o financiamento internacional demonstra reconhecimento global da importância do Semiárido. O FIDA, ao manter um compromisso histórico com o Semiárido, ajuda a trazer essa região para o centro das discussões sobre desenvolvimento rural sustentável e mudanças climáticas. É uma maneira de mostrar que o enfrentamento à pobreza e à vulnerabilidade climática no Semiárido também é uma agenda global.
A implementação do projeto tem apresentado diversos desafios, e eu destacaria alguns dos mais importantes:
- Capacitação das equipes estaduais: O projeto tem um manual operacional extenso, com regras e procedimentos específicos que precisam ser rigorosamente seguidos. Considerando o envolvimento de instituições como o BNDES, o Fundo Verde para o Clima e o FIDA, há altos padrões de transparência e controle sobre a utilização dos recursos públicos. Por isso, é essencial que as equipes estaduais estejam devidamente capacitadas para aplicar corretamente as diretrizes e utilizar os sistemas de gestão e monitoramento previstos.
- Fortalecimento da assistência técnica e extensão rural: Outro ponto fundamental é a qualificação das equipes de assistência técnica e extensão rural, que desempenham um papel central na execução das ações. Muitas dessas equipes ainda não estão totalmente preparadas para lidar com a abordagem inovadora do projeto, que integra tecnologias sociais, adaptação climática e fortalecimento comunitário. Por isso, é fundamental investir na capacitação continuada desses profissionais, garantindo que consigam aplicar os conceitos e práticas previstos no desenho do projeto.
- Atualização de custos e mudanças de contexto: Houve um longo intervalo entre o desenho, a aprovação e o início efetivo da implementação, e, nesse período, muitos fatores se alteraram. A inflação, as mudanças econômicas e a pandemia da COVID-19 impactaram diretamente o contexto social e financeiro do projeto. Durante a pandemia, por exemplo, muitas escolas rurais foram fechadas e não voltaram a funcionar, o que afeta diretamente a capacidade de atingir uma das metas mais ambiciosas do projeto: trabalhar com 250 mil famílias agricultoras, o que representa cerca de 1 milhão de pessoas. Essa redução da rede escolar rural cria desafios adicionais, especialmente para atingir o público jovem, que é um dos focos do projeto.
- Aceleração das mudanças climáticas: Outro desafio evidente é o avanço rápido das mudanças climáticas. Nos últimos anos, temos visto áreas do Semiárido que já estão se tornando regiões áridas, especialmente em partes da Bahia e de Pernambuco. Isso mostra que o processo de desertificação está se intensificando e que o tempo de resposta é cada vez mais curto. O projeto, portanto, precisa chegar ao campo o quanto antes, pois as transformações climáticas não esperam, e algumas delas podem se tornar irreversíveis se a ação não for rápida e eficaz.
IDeF: Considerando que o projeto já foi iniciado em algumas regiões, como Ceará e Bahia. Poderia detalhar sobre os resultados das ações implementadas nessas áreas?
Como o projeto está iniciando sua fase de implementação agora, começando pelos estados do Ceará e da Bahia, nós ainda não temos resultados concretos para apresentar. A expectativa é que, nas próximas quatro a seis semanas, os outros quatro estados (Piauí, Pernambuco, Paraíba e Sergipe) também deem início às suas atividades. Neste momento, o foco está na capacitação das equipes estaduais e na preparação dos primeiros contratos de assistência técnica, além da identificação das comunidades onde serão implementados os TRIPs (Planos de Desenvolvimento Territorial). Embora os resultados de campo ainda estejam por vir, o projeto conta com um robusto sistema de monitoramento e avaliação de impacto, estruturado em um marco lógico abrangente, com diversos indicadores sociais, econômicos e ambientais. Para garantir a qualidade desse processo, foi criada uma Unidade de Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem (PMEL), cuja execução está sob responsabilidade da ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), por meio da AP1MC. Essa unidade acompanhará de forma contínua o desempenho do projeto e será responsável por enviar relatórios anuais ao Fundo Verde para o Clima (GCF), atualizando todos os indicadores. Já em dezembro, teremos que apresentar o primeiro relatório, incluindo os resultados iniciais e descrições das ações implementadas até o momento.
IDeF: Por fim, o modelo do Projeto Sertão Vivo poderia ser replicado em outras regiões do Brasil ou até mesmo em outros países?
A gente acredita muito que o projeto é plenamente replicável, por várias razões. E é justamente por isso que existe essa unidade de execução, coordenada pela ASA, dentro da estrutura de monitoramento, avaliação e aprendizagem (PMEL), que inclui também atividades de gestão do conhecimento. O objetivo dessa frente é sistematizar, documentar e compartilhar as boas práticas geradas ao longo da execução do projeto. Mas vai além disso: ela busca promover cooperação Sul-Sul, criando pontes de intercâmbio e aprendizado entre países e regiões com contextos semelhantes. O FIDA, inclusive, mantém em Brasília um Centro de Cooperação Sul-Sul e Triangular, que atua como um hub de conexão para toda a América Latina e Caribe. O Sertão Vivo / PCRP já nasce com essa vocação: promover rotas de aprendizagem, intercâmbios técnicos e trocas de experiências entre agricultores e equipes técnicas de outras regiões semiáridas e áridas do mundo. A região semiárida do Brasil compartilha características socioeconômicas, climáticas e produtivas com várias partes do globo, como o Gran Chaco, na Argentina, Bolívia e Paraguai, e o Corredor Seco da América Central. Por isso, o projeto tem potencial de se tornar uma referência internacional em adaptação climática e desenvolvimento rural sustentável. Aqui no Brasil, inclusive, já começamos a dialogar com outros organismos interessados em replicar o modelo. Um exemplo emblemático é a sugestão de levar a metodologia do Sertão Vivo para a Amazônia, com o conceito de um possível “Amazônia Viva”. O FIDA, por ser um organismo internacional, tem o papel de difundir essas experiências e resultados em diferentes fóruns e espaços de diálogo global. A ideia é que o conhecimento gerado pelo projeto não fique restrito ao Nordeste ou ao Brasil, mas que possa inspirar políticas, programas e iniciativas em toda a América Latina e em outros continentes. Em resumo, o Sertão Vivo / PCRP é mais do que um projeto regional, é um modelo de cooperação, inovação e resiliência que demonstra como a agricultura familiar e o desenvolvimento local podem caminhar juntos na construção de um futuro mais sustentável e inclusivo.

