Como a Europa se preparou para o turismo de verão em tempos de pandemia

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O turismo é um setor crucial para a economia dos países, sendo imprescindível para muitas cidades, ao apoiar empregos, negócios e serviços. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os setores de turismo doméstico e internacional contribuem em média com 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e 21,5% das exportações de serviços dos seus países membros, tendo triplicado  seu capital de US$ 490 bilhões para US$ 1,6 trilhão nos últimos 20 anos, conforme aponta a Organização Mundial do Turismo (OMT). Todavia, o cenário da pandemia desencadeou um grande choque econômico, antevisto apenas na crise de 2008.

O documento da OMT intitulado “COVID-19 e a transformação do turismo” e divulgado em agosto de 2020 deixa claro o impacto que a pandemia teve no turismo mundial. Com o fechamento das fronteiras e dos hotéis, houve a diminuição em 56% das viagens aéreas e, consequentemente, do fluxo de turistas internacionais, o que correspondente a uma perda de US$ 320 bilhões em exportações do turismo nos últimos cinco meses – mais do triplo da perda existente durante a crise econômica pós 2008. O gráfico a seguir compara a porcentagem do fluxo de chegada de turistas internacionais nas diversas regiões do globo, em 2019 e no período de janeiro a maio de 2020, demonstrando a queda existente.

Diante desse cenário, a Europa começou a abrir, de forma gradual, suas fronteiras para os turistas na expectativa de tentar recuperar parte do prejuízo causado pela COVID-19. As regras de como esse processo se dá varia conforme os países, sendo multissetorial e garantindo a coordenação das medidas implementadas pelas autoridades de saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a OMT e com as estratégias nacionais. Assim, a crise revelou a necessidade de repensar as estruturas das economias do turismo, principalmente com a proximidade do verão europeu.   

Desde maio, a Comissão Europeia já havia definido certas condições para a futura reabertura das fronteiras da União Europeia, estando entre os pré-requisitos: controle da propagação do vírus do país anfitrião; medidas de higiene em estabelecimentos e treinamento de funcionários do setor de turismo sobre o COVID-19; e, monitoramento epidemiológico, com rastreamento dos infectados, juntamente com a capacidade do sistema de saúde de cada país para atender tanto locais quanto visitantes. 

“é imperativo que reconstruamos o setor do turismo de forma segura, equitativa e ecológica. O turismo é um dos setores econômicos mais importantes do mundo, pois proporciona ‘meios de subsistência para centenas de milhões de pessoas’, ao mesmo tempo que ‘impulsiona economias e permite aos países prosperar’”.

FALA DO SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, ANTÓNIO GUTERRES

Na Grécia, turistas partindo de países com baixo nível de infecção poderão entrar no país sem realizar a quarentena ou testes, já turistas vindo de locais de fora da lista oficial do governo precisam realizar tais procedimentos. A ordem básica do distanciamento de 1,5 metro permanece, assim o governo elaborou um plano para as praias em que, de acordo com os regulamentos atuais, apenas até 40 pessoas serão permitidas para cada 100 metros de faixa de areia; cada guarda-chuva pode ter no máximo duas cadeiras, que devem ser postas a quatro metros uma da outra. Como uma forma de desestimular ainda mais aglomerações, os restaurantes das praias foram autorizados, inicialmente, a servir apenas refeições para viagem e nada de álcool.

Apesar da dispensa da quarentena na Espanha, haverá a medição de temperaturas e preenchimento obrigatório aos visitantes. O governo definiu protocolos de distanciamento físico de no mínimo dois metros em áreas comuns de hotéis, bares, praias e piscinas. Nas praias, os trabalhadores e socorristas são obrigados a frequentemente desinfetar espreguiçadeiras, guardas-sóis, que por sua vez devem ficar a quatro metros de distância. Hotéis espanhóis também passaram a adotar medidas mais rígidas de proteção, como uma forma de atrair turistas. Por exemplo, exigem que os futuros hóspedes apresentem um teste com o resultado negativo para o vírus feitos nas 48 horas prévias à reserva e, ao chegarem ao hotel, passem por mais um exame e consulta médica – tudo incluso no valor da estadia. 

Nas cidades praianas italianas haverá drones para fiscalização e a existência de sensores na praia para avisar aos governos municipais quando a capacidade de uma determinada área for atingida. O governo italiano tornou obrigatória uma área mínima de 10 metros quadrados em torno de cada guarda sol, além do uso das máscaras em locais e transportes públicos. Em relação aos turistas, não poderão recusar dar informações em lojas ou restaurantes, quando solicitado, por ser uma medida de rastreamento para saber quem entrou em contato com infectados. 

Algumas cidades europeias aproveitaram para abordar novas estratégias para atrair turistas internacionais. Por exemplo, a capital da Islândia, Reykjavik, anunciou um pacote de ação para o turismo abrangendo uma campanha de marketing para a cidade. Nesse mesmo sentido, Milão (Itália) busca promover-se como uma “cidade segura” em concordância com os protocolos de saúde. Outras cidades como Florença (Itália), Barcelona (Espanha) e Budapeste (Hungria) repensam o desenvolvimento do turismo para modelos mais sustentáveis, com o desejo de abandonar o turismo de grande escala, reorientando para um modelo mais cultural e familiar, como no plano Rinasce Firenze (Florença Renascida) que impedirá a entrada de ônibus turísticos no centro da cidade e reinvestimento em usos locais, sem novas licenças para restaurantes e hotéis.

Reykjavik, capital da Islândia || Créditos: Getty Images

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