O IDeF entrevistou Eduarda Câmara, Mestranda em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Bacharela em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), atualmente é Chefe do Departamento de Atração de Investimentos e Relações Internacionais da Companhia de Desenvolvimento da Paraíba. Escreve sobre relações internacionais para a plataforma www.internacionalmente.com.br e foi voluntária de comunicação no projeto “Meninas na Física” que visa incentivar garotas da rede pública a ingressarem nos cursos de exatas da UEPB-Campus VIII.
IDeF – Na sua experiência como chefe do Departamento de Atração de Investimentos e Relações Internacionais da CINEP, quais as principais dificuldades que você enxerga para a promoção do desenvolvimento no Estado da Paraíba?
A Paraíba possui dificuldades parecidas com o que encontramos a nível nacional, podemos falar do pouco conhecimento das atividades em relações internacionais nos governos e a falta de equipes técnicas especializadas tanto em Relações Internacionais quanto, especificamente, em Cooperação Internacional Descentralizada. Muitas das ações internacionais que já vinham sendo feitas no Estado estavam ocorrendo de maneira autônoma. Muitas coisas interessantes que não foi dada continuidade por falta de uma agenda contínua da atuação internacional estadual, e nisso eu falo tanto do executivo quanto do legislativo. Nós temos ações bem interessantes promovidas pela Assembleia Legislativa, mas que não vão muito para a frente, justamente porque não há uma coordenação dessas atividades. Com a criação do Departamento de Atração de Investimento da CINEP muitas dessas atividades e informações começaram a chegar até a gente, até pela própria formação e expertise da equipe em relações internacionais.
Fazemos parte da administração indireta do Governo do Estado, então existem algumas pautas que não necessariamente somos nós que devemos dar continuidade, apesar de que nós já participamos de alguns trabalhos de ações internacionais na Paraíba, mas o nosso foco atualmente é a atração de investimentos privados. Então, eu acredito que nosso maior desafio agora é coordenar e sistematizar essas atividades de maneira mais pragmática, o que faz sentido ser tocado para frente e também entender por quais órgãos devem ser desenvolvidos.
Nós fazemos muitas reuniões com parceiros importantes. Já estivemos na Assembleia Legislativa do Estado, por exemplo. Então, estamos sempre conversando com esses players e stakeholders, que já vinham atuando com relações internacionais na Paraíba. Tentando auxiliar e entender como podemos ajudar nesse sentido. Nós sempre apontamos muito para a institucionalização de uma Secretaria específica de Relações Internacionais, que ainda se faz muito necessário, pois muitas dessas demandas são respondidas pela Secretaria de Relações Institucionais, que já faz um trabalho muito importante em Brasília, mas que merece um reforço na parte internacional, com a possibilidade da criação de agendas de longo prazo para o Estado. Então, eu acredito que o maior ponto seja a sistematização e a coordenação das atividades internacionais, e que a criação de uma secretaria específica de relações internacionais seja o ponto crucial para isso.
IDeF – Recentemente vocês participaram do Brazil Investment Forum 2021, um evento internacional sobre atração de investimentos estrangeiros para o Brasil, organizado pela Apex-Brasil, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Governo Federal. Considerado o maior evento de investimentos estrangeiros da América Latina, o BIF reúne autoridades do governo federal, estaduais e executivos de grandes empresas do Brasil e do mundo. Você poderia falar mais um pouco sobre a relevância desse evento para a agenda de desenvolvimento da Paraíba?
Sim, o BIF é um evento bem relevante e importante. Ele é um bom retrato de como os Estados estão se organizando na atividade de atração de investimentos aqui no Brasil. A Paraíba participou desse evento com 7 representantes, divididos em tarefas específicas de atendimento bilíngue a investidores, representação institucional e análise de LEADS. Até hoje ainda estávamos nos reunindo com empresas que nos contataram através do Brazil Investment Forum. Não há dúvidas de que essa é uma vitrine importante, para mostrar as potencialidades do Estado da Paraíba para investidores e também para instituições de todo o mundo. Nós temos números muito interessantes sobre esse evento: foram realizadas 79 reuniões virtuais, feitas em 3 idiomas diferentes, 34 conversas privadas com investidores, 117 downloads dos nossos portfólios que estavam apresentados em inglês, espanhol e português. Nos reunimos com representantes de empresas e instituições públicas da Alemanha, Reino Unido, Espanha, Angola, Itália, Estados Unidos, Noruega, Canadá e Taiwan. Então, para nós foi uma experiência muito interessante. Mesmo sendo no formato virtual, por causa da pandemia, conseguimos ultrapassar bem os desafios relacionados à distância e conseguimos representar bem o complexo de oportunidades que é o Estado da Paraíba, especialmente nas áreas de Turismo, Energias Renováveis, Inovação Tecnológica e Indústria de Transformação, que foram de fato nossos eixos estratégicos durante o evento.
IDeF – Acompanhando as últimas notícias podemos perceber que o Governador está promovendo diversas rodadas de negociações com países para atrair investimentos para o Estado. Recentemente, ele assinou um acordo com os EUA estabelecendo parcerias em áreas estratégicas para o desenvolvimento da Paraíba e, no dia 14 de junho, também se reuniu com o cônsul da Alemanha. Como esses contatos são feitos? A Paraíba tem se interessado mais por essa agenda internacional em tempos recentes e buscado esses países para cooperar?
Bom, eu gosto muito de pensar no desenvolvimento da Paraíba. Mesmo como internacionalista, e olhando sempre para a área internacional, eu gosto muito de olhar para o desenvolvimento do nosso Estado. A Paraíba tem ganhado grande notoriedade com a melhoria de seus índices sociais e econômicos. Os saltos de desenvolvimento e melhoria desses índices internos nos deram a possibilidade de ampliar os horizontes, tanto para a nossa região, quanto para o Brasil e para o mundo. Eu vejo grande comprometimento do Governo do Estado na melhoria desses índices, como o PIB, PIB Industrial, IDH, Infraestrutura, Inovação Tecnológica, e isso tem colocado a Paraíba em outro patamar, pois eles são importantes para todos os segmentos, e também para a atração de investimentos.
Eu vejo que a atuação em bloco do Governador do estado junto ao Consórcio Nordeste e, principalmente a última rodada de negócios em diversos países da Europa, resultou em um maior interesse das representações internacionais no Brasil contatarem também a Paraíba. A própria figura do Governador liderando essas relações com empresários e delegações internacionais mostra o comprometimento da Paraíba nas relações diplomáticas e também nas relações de negócios. Em contrapartida, o próprio governo do estado vem procurando se colocar na arena internacional como um player de relevância, se estruturando para manter esses contatos contínuos, pois geram frutos importantíssimos para o Estado em termos de cooperação técnica e atração de investimento privados. E não é como se esse tipo de relação não acontecesse antes, mas como profissional técnica de relações internacionais, eu percebo que o tom dessas discussões estão muito mais estratégicas e programáticas, pautadas nos interesses mútuos e na cooperação ganha-ganha.
IDeF – Levando em consideração a pandemia e seus impactos econômicos negativos ao redor do mundo, como a economia paraibana tem sido impactada e de que forma a cooperação com outros países e a agenda internacional, de forma geral, pode ajudar na retomada do desenvolvimento do Estado?
A cooperação internacional ganhou um outro grau de relevância para todos os estados durante a pandemia. O Nordeste soube utilizar esse recurso muito bem e acredito que continuará fazendo mesmo após a vacinação em massa da população. Os governos estaduais precisaram se organizar de forma muito precisa para evitar o caos que a pandemia do coronavírus nos fez chegar tantas vezes. Eu ouso dizer que a Paraíba está tendo uma das administrações mais comprometidas com a vacinação e com a saúde da população. É só olhar o quanto da população do Estado já tomou pelo menos a primeira dose do imunizante, estamos entre os Estados líderes nessa atividade. E também, os estados brasileiros vem ganhando muita ajuda internacional e isso foi vital em diversos momentos. A partir de então, precisaremos fazer um trabalho contínuo, pois as parcerias duradouras e fortalecidas não se estabelecem do dia para noite e de maneira geral acredito ser esse tipo de parceria que o Estado busca estabelecer.
Então eu acredito que mesmo a pandemia sendo uma porta de entrada para a discussão da cooperação internacional nos governos locais, o tipo de parceria que a gente busca, que é uma parceria altiva e correlata, ela é uma construção. Temos que continuar trabalhando para que essas relações, a exemplo desta que conseguimos estabelecer com os Estados Unidos, seja contínua, duradoura e que abra espaço para a cooperação técnica e em assuntos estratégicos, tanto pro Governo do Estado, quanto para as outras partes.
IDeF – Para encerrar, o que você diria aos prefeitos das cidades paraibanas sobre a chance de cooperar internacionalmente?
É muito compreensível que os governos locais se sintam distantes da perspectiva internacional, mas manter esse distanciamento vai também retroalimentar o distanciamento de oportunidades importantes, como conseguir financiamentos internacionais, cooperação técnica com um Estado que tenha notada relevância em uma área estratégica para o município, e também a própria atração de investimentos. Já há a compreensão que existem problemas globais que só podem ser resolvidos a partir dos Estados e municípios, e as grandes redes de cidades patrocinadas por organismos internacionais já possuem esse entendimento. Pensar alguns temas estratégicos para o desenvolvimento, como sustentabilidade, pobreza, direitos das mulheres e grupos vulneráveis do ponto de vista glocal (Global e Local) é algo cada vez mais importante, e que os municípios precisam se adequar e ter condições de discutir em fóruns multilaterais, globais. E a participação tanto de prefeitos quanto de uma equipe técnica, secretários e vereadores é muito relevante.