A interação dos agentes públicos no combate a fome e à desnutrição

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No relatório da ONU –  O Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI) de 2021 constatou o aumento da fome no mundo. Neste relatório são considerados os impactos da pandemia da Covid – 19 e inclui a análises da FAO (Fundo Internacional para Desenvolvimento da Agricultura), da WFP (UN World Food Programme), da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância) e da OMS (Organização Mundial de Saúde). Nele são apontadas as dificuldades enfrentadas durante a pandemia e o quanto o alcance aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ainda está distante e com maior complexidade. 

O SOFI 2021, explicitou que as redes alimentares são ainda muito frágeis e foram fortemente impactadas nesse período. Segundo dados contidos no documento, o número de pessoas desnutridas aumentou para 9,9% no ano de 2020 em comparação a 8,4% de 2019. O dado aponta o crescimento absoluto da fome, substancialmente influenciado pela covid-19. 

Os dados alertam também para o crescimento de pessoas sem acesso à alimentação adequada em muitas regiões do globo. As mais afetadas são Ásia, África, América Latina e Caribe. Segundo o relatório, o indicador de insegurança alimentar disparou em um ano e se sobrepõe à junção dos cinco anos anteriores. A África é a mais afetada por essa triste estatística. No continente, o aumento da fome foi mais que o dobro de qualquer outra região, segundo a ONU. 

Mesmo antes da pandemia, a fome estava se espalhando e o aumento da má nutrição era lento, mas constante. Ambos foram acelerados pela pandemia, mas também afetados por conflitos, mudanças climáticas e crises econômicas e desigualdade social. A estrutura de distribuição de alimentos também já carecia de equidade e tornou-se ainda mais concentrada. 

Para o Secretário Geral da ONU, o problema mundial da fome e desnutrição não é uma questão isolada. Ele está diretamente relacionado com a pobreza e má distribuição de renda. Guterres reconhece que os ODS estão ainda mais distantes de serem alcançados. Diante deste contexto, o relatório de 2021 apontou 6 caminhos de orientação para os tomadores de decisão a fim de alcançar melhoras quanto a segurança alimentar e nutrição: 1) Integrar políticas de cunho humanitário, paz e resolução de conflitos; 2) Oferecer segurança financeira e previsão climática para os produtores locais; 3) Garantir resiliência, não deixar a vulnerabilidade das mudanças determinarem as condições, a exemplo da pandemia; 4) Intervir nas cadeias produtivas a fim de controlar os produtos básicos; 5) Combate a pobreza e desigualdade; e por fim, 6) Fortalecimento do meio alimentar e mudar a alimentação do consumidor. Por fim, no SOFI 2021, fica expressa a necessidade de se estabelecer um ambiente de governança política e econômica em que mecanismos de cooperação entre agentes privados e públicos se entrecruzam para produzirem respostas para a problemática da fome no mundo. Ele recomenda, ainda, o empoderamento de mulheres e jovens na formulação de políticas públicas, a disponibilização de dados, e estímulo ao desenvolvimento de novas tecnologias.

Além da pandemia, outro problema que agrava o contexto da fome mundial é a atual Guerra da Ucrânia. Segundo a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), estima-se que os dois países diretamente envolvidos (Rússia e Ucrânia) representam 30% das exportações globais de trigo e 15% de milho. A guerra impacta diretamente as cadeias de abastecimento de alimentos que já se mostravam pouco sustentáveis diante das crises internacionais.

A pesquisa que embasa o relatório deixa evidente que os temas de segurança alimentar e nutrição estão profundamente interligados a questões de distribuição de renda e desigualdades. Somente um grande esforço global de agentes públicos (internacionais, nacionais e subnacionais) e privados (transnacionais, nacionais, regionais e locais) no combate a fome e má nutrição pode produzir a minoração do grave quadro atual As parcerias regionais e locais com organizações internacionais, apesar de importantes, tem se mostrado insuficientes para alcançar resultados positivos mais substanciais.

REFERÊNCIAS:

ADELINA, Charrlotte; ANAND, Shriya; JAGADEESH, Keerthana. Urban food insecurity and its determinants: a baseline study of Bengaluru. SAGE Jounals, agosto, 2019. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0956247819861899 Acesso em: 25 de abril de 2022.

Commission acts for global food security and for supporting EU farmers and consumers. European Commission, March, 2022. Disponível em: https://ec.europa.eu/commission/presscorner/detail/en/ip_22_1963. Acesso em: 25 de Abril de 2022.

SOFI 2021: Relatório da ONU destaca os impactos da pandemia no aumento da fome no mundo. Nações Unidas Brasil, julho, 2021. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/135635-sofi-2021-relatorio-da-onu-destaca-os-impactos-da-pandemia-no-aumento-da-fome-no-mundo. Acesso em: 25 de abril de 2022. 

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