Os Institutos Confúcio (IC) são programas públicos de promoção educacional e cultural mantidos pela Fundação de Educação Internacional Chinesa. Os ICs são organizações sem fins lucrativos que possuem como objetivo o ensino da língua e da cultura chinesa, facilitação do intercâmbio educacional e promoção da amizade entre os povos.
Eles estão ligados ao Ministério de Educação da China, pelo Escritório Nacional para o Ensino da Língua Chinesa como Língua Estrangeira (Hanban). O programa que deu origem aos Institutos Confúcio foi criado em 2004 e mais recentemente, passou a integrar a estrutura do Centro de Educação e Cooperação em Línguas.
Os ICs estão presentes no Brasil desde 2008 com a fundação do IC em São Paulo, fruto da cooperação entre a Universidade de Hubei e a Unesp (Universidade Estadual Paulista). Além disso, dentre as práticas dos ICs no Brasil também temos a presença das Confucius Classrooms (extensões do IC em escolas e centros de educação locais), o IC para Negócios (oferece seminários empresariais e curso de pós-graduação sobre a China) e o IC para Medicina Chinesa (existem apenas 18 desse no mundo e de Goiás, na UFG, é a única da América Latina).
Atualmente, o Brasil possui cerca de 11 institutos, presentes em São Paulo (UNESP, UNICAMP E FAAP), Rio de Janeiro (PUC-Rio), Minas Gerais (UFMG), Goiás (UFG), Pará (UEPA), Pernambuco (UPE), Ceará (UFC) e Rio Grande do Sul (UFRGS).
Tendo em vista a grande capacidade de intercâmbio cultural, internacional e de cooperação dos ICs, o IDeF convidou Xu Kerou para conversar sobre o IC. Kerou é professor na Universidade do Pernambuco (UPE). Graduado em letras pela Tianjin Foreign Studies University (Tianjin, China, 2013). Foi gestor de cooperações internacionais na Central University of Finance and Economics (Beijing, China). Tem experiência na gestão da educação internacional e no ensino de língua e cultura.
Primeiramente, o senhor poderia explicar por que o Instituto Confúcio atua somente em parceria com universidades?
A natureza do IC é ser uma instituição educacional sem fins lucrativos, isso faz com que a maioria dos ICs seja inserida nas universidades estrangeiras em parceria com universidades chinesas que atuam na área de educação. No entanto, o IC também busca diversificar suas parcerias e existe a possibilidade do IC atuar em parceria com empresas. Nessa segunda forma, temos o IC na Universidade Agostinho Neto, em Luanda, capital de Angola, que acabou resultando de um protocolo de cooperação assinado em março de 2014 entre a universidade angolana, o Instituto Confúcio, a Harbin Normal University, na China, e a empresa chinesa CITIC Construction. Os interessados podem saber mais neste link.
Como o Instituto Confúcio (IC) chegou ao Brasil e como ocorreu a instalação nas universidades brasileiras? De quem foi a iniciativa do processo?
O IC chegou ao Brasil como resultado de convênios firmados entre universidades brasileiras, chinesas e as agências de fomento para o ensino internacional de língua e cultura chinesas. Quanto à instalação, normalmente as universidades anfitriãs disponibilizam o espaço, equipamento e equipe administrativo etc., enquanto as universidades chinesas se encarregam de enviar professores para lecionar. Acredito que a chegada do IC ao Brasil é baseada na reciprocidade, que os dois lados têm na mesma intenção e vontade de colaborar.
Qualquer universidade brasileira pode ter um IC ou há algumas condições para que isso ocorra?
De acordo com o Estatuto do IC, há alguns critérios: ser uma entidade jurídica devidamente registrada, com recursos para ensino, intercâmbio educacional e cultural, possuir demanda e procura pelo aprendizado e espaço, equipamento, condições apropriadas para ensino, estabilidade financeira, entre outros. As instituições interessadas podem checar melhor o nosso regulamento através deste link.
Quais as principais atividades desenvolvidas pelos Institutos no Brasil? Há diferenças nas ações dos ICs de cada universidade?
As principais atividades que realizamos são o ensino da língua e da cultura. Ademais, juntamente com a universidade chinesa, o IC oferece oportunidades para seus alunos fazerem intercâmbios e estudarem na China. Cada IC desenvolve seus produtos e programas conforme as necessidades locais e não existe uma receita única. Por exemplo, o IC em São Paulo organiza anualmente uma feira de recrutamento, atendendo às necessidades das empresas locais pela procura de profissionais fluentes em chinês. Já o IC em Goiás tem especialidade de Medicina Tradicional Chinesa.
Apenas o público universitário se beneficia das atividades dos ICs? Como cada cidade brasileira, de maneira mais geral, pode se beneficiar com as ações dos ICs?
Qualquer um que deseja aprender o idioma chinês pode se inscrever no curso do IC, não apenas o público universitário.
Além dos cursos do idioma, as cidades podem aproveitar e incluir as atividades culturais organizadas pelo IC na sua agenda e programação culturais, a exemplo da comemoração do ano chinês no Recife, a data festiva foi incluída no calendário oficial de eventos do Município do Recife, na Lei Municipal Nº18.992. Junto com a prefeitura do Recife, as partes envolvidas incluindo o IC realizam a festa, exposições, exibições de filmes etc. contribuindo para a vida cultural da cidade.
Na minha opinião, de acordo com a realidade e demanda de cada cidade, há muitas possibilidades e potencialidades que o IC pode explorar para atuar localmente.
Quais as maiores dificuldades que os ICs enfrentam para promoverem a língua e a cultura chinesa?
Sustentabilidade financeira, engajamento das instituições envolvidas, capacitação e desenvolvimento de carreira de longo prazo dos professores, inovação em didática e material de ensino, gestão multicultural são alguns principais desafios que os ICs enfrentam atualmente.