Santa Maria: Uma Jornada para a Economia Solidária e o Reconhecimento Internacional

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Descrição da imagem: Prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, à Direita na foto e vice-prefeito Rodrigo Decimo a esquerda.

Jorge Cladistone Pozzobom, nascido em 30 de maio de 1970, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, é filho de Albino Pozzobom e Maria Tereza Pozzobom, e pai de duas filhas, Rafaela e Victória. 

Formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), foi na terra natal que iniciou a trajetória política. Filiado ao PSDB, em 30 de outubro de 2016, foi eleito prefeito de Santa Maria na primeira vez em que a cidade teve disputas em segundo turno. Em 2020, foi reeleito, cargo que ocupa atualmente. Para ele, amar a sua cidade deve ser uma premissa para todo prefeito. 

Mas essa trajetória começou bem antes, no início dos anos 2000. De 2001 a 2004, assumiu como vereador suplente em Santa Maria. Nas eleições de 2004, foi eleito vereador da cidade, função que exerceu até 2006, quando concorreu à Câmara Federal, ficando na suplência.

Em 2008, Jorge Pozzobom foi secretário-geral adjunto do Estado e assessor especial da governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius. Exerceu, também, as funções de secretário municipal de Assistência Social, em 2009, e de secretário municipal de Integração Regional e Relações Institucionais, em 2010, ambos em Santa Maria. Em 2010, concorreu à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, tendo sido eleito deputado estadual. 

Nas eleições de 2012, concorreu à Prefeitura de Santa Maria pela primeira vez, não tendo sido eleito. Em 2014, foi reeleito deputado estadual com 48.244 votos, sendo o segundo mais votado do PSDB.

O projeto em destaque na entrevista com o prefeito Jorge Pozzobom aborda a trajetória de Santa Maria rumo ao reconhecimento como “capital mundial da economia solidária”. Um dos principais marcos desse projeto é a Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária (Feicoop), que completa 30 anos em 2024 e representa uma iniciativa forte na promoção da economia solidária. A feira atrai participantes de várias partes do mundo, incluindo países da América Latina e da Europa. Além disso, políticas municipais específicas foram implementadas para fortalecer a agricultura familiar e a economia solidária.

Excelentíssimo senhor prefeito, poderia iniciar falando um pouco sobre esse status da cidade de Santa Maria de Capital Mundial da Economia Solidária? Como vocês tiveram essa visibilidade? Quais foram as políticas que levaram a cidade a obter esse título?

Eu lembro do amor e da solidariedade que a gente recebeu do mundo inteiro por conta da tragédia da boate Kiss. Todo esse carinho nos transformou e a solidariedade tornou-se ainda mais importante para nós. Exemplo disso é a nossa Feira Internacional do Cooperativismo. Ela completa 30 anos esse ano e envolve muitas pessoas da Agricultura Familiar, que é a parte mais forte da Economia Solidária, é fruto de muito trabalho, unidade e união. Antes, era a irmã Lourdes Dill que coordenava a nossa Feicoop. Atualmente, ela tem exercido missões em outros locais, como Moçambique, na África. Quando eu assumi a prefeitura de Santa Maria, em 2017, fiz questão de ser o representante oficial do Executivo na coordenação da feira. E, claro, eu, Jorge Pozzobom, e Rodrigo Decimo, nosso vice-prefeito, estamos direto na feira. Não tenho a menor dúvida que o título de Capital Mundial da Economia Solidária foi fruto de muito trabalho. É um título que recebemos com muito amor.

É um trabalho incrível que vocês fazem. O senhor e o Rodrigo Decimo foram os primeiros nomes que a gente achou ao pesquisar sobre essa área. É importante ver esse tipo de trabalho sendo desenvolvido aqui no Brasil. É incrível que essa feira seja muito antiga.

Durante a feira, vem gente da Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Venezuela, Equador, Hungria, pessoas de várias partes do mundo. Participar da feira é simplesmente um espetáculo. Um dia, se você tiver a oportunidade de vir aqui, seria bom. Eu sou apaixonado pela Agricultura Familiar. 

Muito bom. E quais foram as políticas fundamentais para a cidade conseguir chegar a esse patamar?

Eu vou te dar alguns exemplos. Durante a pandemia da Covid-19, vários municípios no Brasil proibiram as feiras ao ar livre. Nelas, estão os pequenos agricultores, por isso, em Santa Maria, não proibimos Seria ilógico. Fizemos um trabalho conjunto com todos, conversamos com eles e, mais ainda, compramos produtos da agricultura familiar para dar para os nossos alunos da Rede Municipal de Educação que ficaram em casa durante a pandemia. Cerca de 40% das merendas dos colégios compramos da Agricultura Familiar, incluindo produtos da Quarta Colônia, aqui na região central do Estado, nas proximidades de Santa Maria. Quando o programa do Governo Federal, que subsidiava a agricultura familiar foi suspenso, nós criamos um programa com recursos do município para essa área, visto que é muito importante. Além disso, nossa cidade conta com 10 cozinhas comunitárias e um restaurante popular. Nestes, mensalmente, servimos 32 mil refeições, sendo que a maioria dos ingredientes são da agricultura familiar.

Durante nossas pesquisas, verificamos que a feira movimenta muito a economia local, ela valoriza a agricultura familiar e, além disso, proporciona encontros e trocas por meio das oficinas e dos seminários formativos, com pessoas de vários lugares do Brasil e de outros países. O senhor poderia comentar um pouco mais sobre a importância da feira para o município e a sua articulação com outras localidades para a promoção da economia? Como funciona? Poderia comentar mais sobre essa articulação?

Bom, primeiro que eu quebrei um paradigma aqui. Afinal, a minha relação com agricultura familiar não é de agora, é de muito antes. Eu fui deputado estadual durante oito anos, fui secretário de assistência social por 15 anos e, desde essa época, sonhava em, se fosse prefeito, criar uma feira regional em Santa Maria. Ou seja, desde aquele tempo, um conjunto de ações tem nos levado a esse título. A minha alegria é, durante a Feira, visitar cada stand todo o pavilhão. Na edição de 2023, passaram mais de 150 mil pessoas por lá, resultado de uma grande construção coletiva.

Bom, voltando um pouco e pensando na relevância de políticas voltadas para esse tema, que conselhos vossa excelência daria para outros prefeitos no Brasil que não estão atentos a essa questão?

Quem não conhece as feiras, não entende a importância desse funcionamento. Todos têm que ir a esses pavilhões e presenciar o espírito de solidariedade que há na Feicoop. Nosso governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, conhece a nossa feira e, assim como ele, quem prestigia o evento se encanta a cada edição.

Em setembro do ano passado (2023), o vice-prefeito de Santa Maria, o excelentíssimo senhor Rodrigo Decimo, durante agenda no Consulado Americano e no Instituto Caldeira, tratou de parcerias comerciais, acadêmicas e culturais com os Estados Unidos, Reino Unido, Argentina e o Paraguai. Por que a sua gestão se importa com relações internacionais? Qual a relevância em desenvolver parcerias internacionais em nível municipal?

Bom, primeiro que Santa Maria é uma cidade universitária. Lamentavelmente, ficou conhecida no mundo inteiro por conta da tragédia da boate Kiss, mas esse espírito de amor que gerou solidariedade após a tragédia tornou Santa Maria conhecida no mundo inteiro. Então, transformamos um momento de dor em amor. Aqui, recebemos pessoas de várias partes do Brasil e de fora do país. E o Rodrigo Decimo é a pessoa certa para receber bem e estreitar as relações com todas elas. Ele é uma espécie de um cônsul, fortalecendo esse contato com universidades, Instituto Caldeira de Porto Alegre, entre outras instituições e cidades.

A partir de uma reunião do Mercosul, houve o planejamento de um evento de economia criativa em Santa Maria, que contará inclusive com a participação dos países vizinhos. Como isso foi acordado? Por que Santa Maria foi escolhida para sediar esse evento? É possível que eventos dessa grandeza sejam organizados em outras cidades brasileiras?

A sugestão que eu dou é que outros prefeitos venham conhecer Santa Maria para ver o engajamento que existe entre as equipes. É um do lado, do outro, não há concorrência, todos se ajudam.

De forma geral, pensando em relações internacionais de Estados e municípios brasileiros, vossa excelência entende que essa área deveria ser permanente na gestão pública? Ou é algo pouco relevante e nem todos os prefeitos necessitam se engajar internacionalmente?

Eu consegui desmistificar algo aqui em Santa Maria. A história dizia que a economia solidária pertence aos partidos de esquerda, o que é um absurdo. Lamentavelmente, o Brasil é dividido com ódio de ambos os lados e o que eu consegui mostrar como prefeito dessa cidade é que a economia solidária é muito maior do que todos nós juntos. Não aceito politização nessa questão. Na feira, todos os partidos são bem-vindos, mas eu não aceito politizar ou dizer que a economia solidária e a agricultura familiar pertence a um partido de esquerda. Ela pertence aos agricultores. São eles que estão ali no dia a dia trabalhando. São eles que merecem o nosso maior carinho e respeito. E, mesmo que não seja possível para o prefeito visitar a Feicoop, é fundamental que um secretário da prefeitura o faça. Com certeza, todos irão se encantar com a magnitude desse trabalho.

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